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História do Judiciário Paranaense - Desembargador Armando Jorge de Oliveira Carneiro


HISTÓRIA DO JUDICIÁRIO PARANAENSE - DESEMBARGADOR ARMANDO JORGE DE OLIVEIRA CARNEIRO

Por Robson Marques Cury

 

Nascido em Curitiba no ano de 1919. Duas vezes vice-presidente e duas vezes presidente dos Tribunais de Alçada e de Justiça, e Governador do Estado interino. Formou-se na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, turma 1946. Estagiário no escritório do advogado Dálio Zippin. Nomeado Promotor Público após prestar concurso. Em seguida advogou na comarca de Wenceslau Braz. Nomeado Juiz Substituto de Cornélio Procópio em 1950 após prestar concurso. Efetivado como Juiz de Direito em 1953 atuou em São Jerônimo da Serra, Joaquim Távora, Rolândia, Campo Mourão, Guarapuava e Ponta Grossa.

Em 1970 foi nomeado pelo governador Paulo Pimentel para o recém instalado Tribunal de Alçada, do qual foi vice-presidente na gestão 1973/74, assumiu a presidência em decorrência do falecimento do Des. Aurélio Feijó. Promovido a desembargador em 1975 e elegeu-se vice-presidente em 1979/80 e presidente do Tribunal de Justiça do Paraná no biênio 1985/86. Assumiu, interinamente, o Governo do Estado durante o mês de setembro de 1986 substituindo o governador João Elísio Ferraz de Campos, na condição de presidente do Tribunal de Justiça. Adoentado, faleceu antes de completar o mandato, em 1986, aos 67 anos de idade.

Eu, como Juiz de Direito Diretor do Fórum de Toledo, e a minha esposa Maria Regina tivemos a honra de recebê-lo e à esposa Dona Josephina,  no ano de 1985, quando participaram de cerimônias oficiais na região e da tradicional “Festa do Porco no Rolete”. Estavam acompanhados do assessor Mercer.

O seu filho, Antonio Carlos Carneiro Neto, conceituado jornalista e radialista, com diversos livros publicados, além de tabelião concursado do 2º Ofício de Protesto de Títulos de Ponta Grossa, publicou crônica no jornal Gazeta do Povo edição de 30/12/1986, denominada PAI AMIGO.

“Os seus amigos brincavam que ele passou anos conhecido como  ‘o pai do Carneiro Neto’. Depois de sua eleição à presidência do Tribunal de Justiça do Paraná e, por duas vezes, governador interino com ampla cobertura da imprensa, eu assumi o papel de ‘filho do desembargador Armando Carneiro’.

Ele foi meu grande amigo a vida toda. Amigo dos meus dois irmãos e de todos aqueles que o conheceram. Homem simples, de costumes modestos, abraçou a carreira de juiz de direito como um sacerdócio, dedicando décadas de vida à causa da Justiça, sempre no trajeto de casa ao fórum e vice-versa. Mesmo sendo uma pessoa reservada criou vasto círculo de amizades em todo Paraná e, nos últimos tempos, em todo Brasil através de congressos e encontros de magistrados.

Foi professor de Direito Civil da Faculdade de Direito da Universidade de Ponta Grossa, mas jamais teve a veleidade de considerar-se um jurista. Antes, pelo contrário, gostava de dizer aos colegas que ‘O juiz deve ter bom senso. Não adianta possuir grande cultura jurídica se no momento do julgamento faltar-lhe serenidade e bom senso’.

Gostava de colecionar revistas e sempre dedicou-se a leitura dos livros que guardava com carinho. Permitia-se passar os fins de semana na casa da praia e, de vez em quando, sofria um pouquinho pelo Atlético. Era daquele tipo que ouve o jogo pescando os lances, num liga-desliga que denotava nervosismo diante do rádio. Era mesmo um atleticano fanático, pois a família frequentava a Baixada desde os tempos que lá era o campo do Internacional.

O meu pai amigo não trazia no rosto nenhum vestígio de angústia ou espanto. Depois de 67 anos de muita luta e muita vida, singrava as vastas águas da morte sem qualquer esforço, sem medo delas, embarcado na coragem de ser o que assinalara como homem de grande porte, capaz de viver e de morrer em austero silêncio.

Sempre tive orgulho do meu pai. Ele sempre foi o mesmo homem. Caráter definido, dedicado e sério no trabalho, cordial com os amigos e carinhoso com a família. Todos que o conhecemos, somos discípulos de sua conduta reta, honesta, pontilhada de tolerância e de inflexível lealdade.

Adeus pai. Adeus amigo”.

Carneiro Neto, como não poderia deixar de ser, lembra divertida passagem do pai em partida de futebol, intitulada O CRAQUE:

“Na formatura da primeira turma do curso da Faculdade de Direito de Ponta Grossa, realizou-se uma partida de futebol entre professores e alunos, seguida de grande churrascada.

Como juiz da comarca e professor da faculdade, meu pai foi convidado para a festa e escalado para jogar. Porém, como a sua intimidade com a bola não ia além das arquibancadas, aceitou assistir ao jogo e participar do almoço.

Um dos formandos era o empresário Wallace Pina, proprietário da Rádio Difusora de Ponta Grossa. A emissora transmitiu o jogo entre alunos e professores, naquela manhã de sábado, no campo do Guarani, o tradicional Estádio Paula Xavier.

O narrador da rádio recebeu as escalações das equipes constando o nome de Armando Carneiro, como meia-direita, ao lado de outros professores. Só que no lugar dele quem jogou foi o bedel da faculdade e ex-jogador profissional do Guarani, o craque da seleção paranaense Oscar Correia.

Com o jogo em andamento o narrador transmitiu as belas jogadas do Oscar como se fossem do Professor Armando Carneiro.

Na segunda-feira, recebendo um advogado em seu gabinete no fórum, meu pai foi surpreendido por desconcertante elogio:

 ‘Parabéns, doutor Armando. Ouvi o jogo e fiquei impressionado, pois não sabia que além de juiz e professor, o senhor também lança bolas em profundidade, dribla, bate escanteio, cobra pênalti, dá bicicleta e marca gol de cabeça...!’."

Foi por ocasião da comemoração dos noventa anos do desembargador Armando Jorge de Oliveira Carneiro, a publicação dessa matéria de autoria do seu filho Antonio Carlos Carneiro Neto, na Toga e Literatura, Revistal Cultural da Amapar, edição de dezembro de 2009.

 

DESEMBARGADOR ROBSON MARQUES CURY