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História do Judiciário Paranaense - Desembargador Augusto Lopes Côrtes


HISTÓRIA DO JUDICIÁRIO PARANAENSE - DESEMBARGADOR AUGUSTO LOPES CÔRTES

Por Des. Robson Marques Cury. Em memória do Des. Augusto Lopes Côrtes.

Augusto Lopes Côrtes, filho de Afrânio José Cordeiro Côrtes e Odette Amélia Lopes Côrtes, nasceu no dia 5 de janeiro de 1956, em Ortigueira (PR). Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Paraná, turma 1981, ingressou na magistratura após concurso para juiz substituto, sendo nomeado em 1º de julho de 1986 para a comarca de Toledo. No dia 15 de outubro de 1987 foi promovido a juiz de direito da comarca de Joaquim Távora, judicando, a seguir, nas comarcas de Francisco Beltrão e Curitiba.
 

Foi promovido ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná em 25 de junho de 2007.

Faleceu no dia 27 de setembro de 2013, aos 57 anos de idade.

Magistrado vocacionado e trabalhador, partiu prematuramente, no auge do seu trabalho cultural, tal qual constou no seu obituário intitulado “Desembargador com vocação para a cultura”. 
 
Augusto fez o curso primário na Escola de Aplicação Alba Guimarães Plaisant, anexa ao Instituto de Educação do Paraná, e, após concorrido exame de admissão, iniciou o ginásio no Colégio Estadual do Paraná, ali concluindo o curso científico em meados da década de 70. Vocacionado aos estudos humanísticos, no CEP sempre esteve envolvido em atividades culturais, iniciando-se na arte em cerâmica, na poesia e na música, atividades proporcionadas pela escolinha de arte da instituição. Elogiado ator, Augusto integrou um grupo teatral no CEP, bem como a equipe de redação do jornal estudantil do Grêmio Gecep. Exerceu a presidência-geral do grêmio estudantil do colégio em 1973, destacando-se como orador e líder estudantil.
 
Na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, onde se formou em 1982, ele teve uma ativa participação na política acadêmica, liderando o Partido Acadêmico Progressista (PAP), ao lado de Luiz Edson Fachin e Manoel Caetano Ferreira Filho. Publicou poesias e trabalhos jurídicos no jornal do Centro Acadêmico Hugo Simas.
 
Minha afinidade com o Desembargador Augusto Lopes Côrtes ocorreu em razão de termos trabalhado na comarca de Toledo, ainda que em épocas diferentes, e sempre relembrávamos as especiais características e qualidades da cidade, bem como dos escrivães e servidores do fórum, dos agentes delegados, e do povo toledano, pois tínhamos orgulho de ter laborado nessa pujante comarca.
 
A sua esposa, Elisabeth Wagner Côrtes, recordou passagens da vida no interior:
 
“A SENTENÇA.
Meu marido sempre teve muito empenho com a profissão que abraçou, embora no início, com a inexperiência e a ansiedade, diante de tanta coisa nova que teria que enfrentar. Foi nomeado Juiz Substituto, em julho de 1986, para a comarca de Toledo, que na época tinha apenas uma vara cível e uma criminal, com grande quantidade de serviço.
 
Terminado o dia, voltávamos para casa e depois do jantar ele já estava envolvido com a pilha de processos trazida do fórum, como por vezes, acontece até hoje, com a diferença de que a rotina era até a meia-noite, uma hora ou mais.
 
Aos domingos, almoçávamos fora, e como naquele tempo os filhos ainda não tinham nascido, quase sempre fazíamos sesta; depois, é claro, novamente processos.
 
Passados uns oito meses nesse ritmo, num determinado domingo, levantei de nossa soneca e vi que o Augusto não acordava; deixei que continuasse deitado e quando se aproximava das 19h30m, fui chama-lo. Ele senta na cama e começa a falar. A princípio não consegui entender, então notei que ele estava dando a sentença de um processo que vinha estudando há alguns dias. Não pude deixar de rir do tipo de sonho que ele estava tendo. Disse-lhe que estava tudo bem, que voltasse a dormir.

Tornou a deitar e dormiu até o dia seguinte, o que deve ter sido num total de, cerca de, dezoito horas consecutivas. Haja cansaço!
 
O COMÍCIO
Nas eleições do ano de 1988, meu marido era juiz na comarca de Joaquim Távora que compreendia as cidades de Quatiguá e Guapirama. Cidades de povo cativante e amigo, que trago com saudades na lembrança. Contudo, quando se trata de eleições municipais, os ânimos ficam acalorados pela disputa ente candidatos que vivem tão próximos.
 
Com os comícios reunindo grande quantidade de pessoas simpatizantes dos candidatos, os comitês querem programá-los sempre para o último dia de propaganda eleitoral.
 
Naquele ano, na cidade de Quatiguá as disputas eram tão acirradas, que o temor de que ocorressem mortes se fazia presente. Por este motivo o Augusto, para garantir a ordem pública, proibiu que fizessem mais de um comício, no mesmo dia, no município, porém os partidos obtiveram autorização superior para realizarem os eventos.
 
Chegou o último dia da propaganda eleitoral e marcados os comícios com menos de uma hora de diferença entre um e outro, o Augusto sentou-se chateado na varanda olhando para o céu cinzento com o pressentimento de ser desastroso aquele início de noite. Distraído em seus pensamentos, deu-se conta de que o tempo escurecia mais depressa do que seria normal para o horário, determinado o acendimento das luzes da rua. A tempestade que se aproximava parecia, como de fato foi, de grandes proporções. Em seguida, apagaram-se as luzes em toda a região do norte velho, de Wenceslau Braz a Cornélio Procópio. Resultado, não houve comícios. O Augusto olhou para aquele show de relâmpagos na escuridão e pensou: Papai do Céu está comigo!

Infelizmente, no dia seguinte ocorreu uma morte.
 
O RATINHO.
Ainda na comarca de Toledo, numa sexta-feira à noite, quando assistia televisão tive a sensação pelo canto do olho de que algo se moveu de um lado para outro na sala.
 
Na noite seguinte, enquanto o Augusto assistia o jornal teve a mesma sensação e comentou o fato, quando então lhe contei que o mesmo ocorrera comigo na noite anterior.
 
Continuamos assistindo televisão, juntos, e mais uma vez tivemos a sensação de que algo se moveu e resolvemos averiguar se havia algo além de nós na sala.
 
Começamos a olhar atrás dos móveis e encontramos um camundongo atrás da oratória e iniciamos uma caçada ao minúsculo, mas repugnante intruso.
 
Depois de inúmeras tentativas, algumas criativas e outras nem tanto, conseguimos cansá-lo e nos livramos dele.
 
Ficou a indagação de como havia aquele rato entrado em nosso apartamento, pois morávamos no terceiro andar e não haviam frestas nas portas pelas quais ele pudesse ter passado.
 
O mistério ficou no ar até o dia seguinte, quando conversando com o Augusto sobre os dias que permanecera na comarca de Santa Helena ele me contou dos ruídos que escutava durante a noite na casa destinada à moradia do juiz naquela comarca.
 
Inclusive porque, numa noite chegou a acordar com um barulho parecendo ter alguém no quarto mexendo nos plásticos que estavam na mala e, nada tendo encontrado, com a arma na mão, examinou portas, janelas e o interior da casa.
 
Conclusão: o Augusto teve um companheiro de viagem, de Santa Helena a Toledo e não sabia. O ratinho veio na mala.” (Com Justiça e com Afeto, Artes & Textos, 1994)
 

Por Desembargador Robson Marques Cury.

Desembargador Augusto Lopes Côrtes