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História do Judiciário Paranaense - Desembargador Celso Rotoli de Macedo


HISTÓRIA DO JUDICIÁRIO PARANAENSE - DESEMBARGADOR CELSO ROTOLI DE MACEDO

Por Robson Marques Cury

Duas vezes Presidente. Primeiro do Tribunal de Alçada, depois do Tribunal de Justiça.

Tive a elevada honra de por ele ser empossado em maio de 2000, em inolvidável solenidade, no honroso cargo de Juiz do Tribunal de Alçada.

Exerceu indiscutível liderança no Judiciário Paranaense, marcando de forma indelével suas administrações.

Sua querida esposa Antônia Marlene Guimarães de Macedo relembra passagens da vida e da carreira:

 

 “Destino”, este ser invisível que rege os nossos caminhos...

Mas ele não é infalível, pois também pode errar, senão iria demorar tanto em fazer Antônia Marlene e Celso se encontrar.

Marlene com 13 anos e Celso com 17.

Hoje aos 53 anos juntos, nesse amor forjaram da vida uma colcha de retalhos.

Celso fez concurso para Juiz de Direito Substituto. Passou e fomos para Londrina.

Das geadas de Curitiba, à poeira e ao calor abrasador de Londrina, à lama de Chopinzinho, mas lado a lado e nosso Naorzinho, tornamos suave o nosso caminho.

Em Chopinzinho, Celso, depois de novo concurso, agora era Juiz de Direito, em 1969. Na época era necessário fazer dois concursos.

Assumiu como Juiz de Direito, chegamos na cidade empurrando o carro na lama. Bangue-Bangue só conhecíamos em filme de faroeste, em Chopinzinho conhecemos “in loco”.

Eu menininha de colégio de freira e Celso colega do Desembargador João Luiz Manassés no Colégio Bom Jesus.

Mais uma vez, a mão do destino, nossos filhos são colegas na magistratura.

Fomos à uma Crisma na única igreja da cidade. Houve um tiroteio, até o Bispo de Palmas perdeu a Mitra e escondeu-se embaixo de um banco.

Chegamos a Ibaiti sem a mudança, atrasou para chegar, depois de vencermos 150 km de barro de Piraí do Sul a Ibaiti. Naor com crise de bronquite. A casa que tínhamos alugado, alugaram para outra pessoa que pagou o dobro. O Promotor de Justiça, Dr. Francisco Vercezi Sobrinho, e sua esposa, Iara, nos hospedaram por uma semana na casa deles, até alugarmos por um mês uma casa para nos alojar e a mudança que estava no Fórum.

Amizade abençoada que já dura 50 anos. Ontem duas meninas, Iara e eu, hoje fazemos juntas a Universidade da Terceira Idade.

Mudamos para outra casa, no final da cidade, a casa era muito velha e chovia mais dentro do que fora. Mas emprestaram uma lona de caminhão para cobri-la. Ficamos nesta casa por dois anos.

Em um ano e dois meses de diferença nasceram Marcel e Mônica. O berço da Mônica tínhamos de mudar de lugar para fugir das goteiras.

O Prefeito Dr José da Silva Reis se condoeu da situação da família do Juiz e comprou uma casa. Esta casa hoje não é mais do Juiz, mas isso já é outra história.

Permanecemos em Ibaiti por seis anos.

Celso foi promovido para Assis Chateaubriand. Oba!!! A principal Avenida Tupãssi é asfaltada e tem Casas Pernambucanas, a cidade deve ser ótima...

 “Cadê o asfalto? O barro das outras ruas cobriu o dito cujo”.

A água de Ibaiti era boa, chegamos em três e fomos embora em cinco.

Mamãe... A poeira cobriu o meu sorvete!, reclamaram Naor Neto, Marcel e Mônica. Bem que avisaram para só tomar sorvete dentro de casa. Mas os três não deram importância. Viu no que deu? Perderam os sorvetes.

A casa do Juiz era no final da cidade, perto das fazendas, quando mecanizavam para colher a soja, o céu era marrom. Era um Deus nos acuda! Sujava a roupa no varal, tinha que secar tudo dentro de casa.

Mas meu lema de vida: “o céu se encontra onde quem eu amo vive!”

Fomos para Foz do Iguaçu. A casa do Juiz era péssima, foi desapropriada para fazer uma avenida de duas pistas, chamava Raul de Matos, a casa parecia um vagão de trem, a Avenida levou quase dois anos para terminar.

Ah.. O destino de novo, será ele a me fazer enfrentar poeira?

As Cataratas secaram, fazia até 50 graus, não tinha ventilador, nem ar condicionado para comprar. Esse ano sofremos muito até a seca acabar.

Naor mais sacrificado, passou em três escolas diferentes de três cidades. Mas a família sempre unida.

Em Foz ficamos cinco anos, mas fizemos grandes amizades que perduram até hoje.

A saga terminou em Curitiba.

Celso teve a recompensa, pois galgou todos os degraus da magistratura Paranaense.

Foi Vice-Presidente do Tribunal de Alçada e, em seguida, Presidente. Além de ter sido Presidente do Tribunal de Justiça e Governador do Estado do Paraná.

Celso começou a trabalhar no Tribunal de Justiça como Assessor Jurídico e quando Presidente lembrou que os servidores esperavam a criação de um quadro há mais de 50 anos.

Como Presidente do Tribunal de Justiça se preocupou em dar dignidade para os funcionários. E o fez, pois além de boa memória, tem bom coração.

A bondade foi herança de seu avô, Manoel Ribeiro de Macedo, como Presidente da Câmara dos Vereadores substituiu o Prefeito doente, sendo que no primeiro ato promulgou a lei do sábado e domingo remunerado ao trabalhador, que até então não eram remunerados.

Hoje a roda do destino deu a sua volta, chamamos de destino a mão de Deus, para não chamarmos a mão Dele em vão.

O grande amor da adolescência criou raízes e elas procriaram. Chama-se Naor Ribeiro de Macedo Neto, é Juiz de Direito em Segundo Grau e atua na 1ª Câmara Criminal do TJ; Marcel Guimarães Rotoli de Macedo, Juiz de Direito em Segundo Grau, atua na 2ª Câmara Criminal e atualmente é Juiz Auxiliar da Corregedoria Geral da Justiça, é pai de Maria Luiza, vestibulanda de Direito e Victória Maria, ainda pequena diz que vai ser médica, nosso enlevo, eu e Celso, a pensar nos passos do seu destino.Marcel é casado com Krystyane Jondral de Macedo que é Tabeliã do Cartório Distrital de Doutor Ulysses. Mônica Maria é Tabeliã do Cartório Distrital do Boqueirão, Presidente do Colégio Notarial do Brasil, secção do Paraná, e está com alguns colegas escrevendo um livro, além de ser professora da Escola da Magistratura. Quando digo que vai se estressar, ela responde: desde pequena ouço meus pais dizer: não queremos nossa filha fazer da vida um binômio de criança e criada. É mãe de Bruno, advogado, e Maria Eduarda, acadêmica de Direito. Mônica é casada com o Desembargador Fábio Haick Dalla Vecchia.  

Alguns anos atrás eu e Maria Regina Cury, esposa do autor deste texto, depois de anos de caminhada juntas, descobrimos que somos da mesma linhagem dos Macedo.

Nós duas sempre em fraternal convívio, no doce enlevo das horas já vividas, continuamos com carinho o sentimento que nos fez amigas.

Eu e Celso e as crianças, calcamos pedras, afastamos espinhos, como se a escarpa desta vida fosse o mais suave dos caminhos.” 

 

Tocante a sensibilidade desse depoimento, mostrando a esposa e mãe dos filhos do magistrado, as vicissitudes da vida familiar e profissional de Celso Rotoli de Macedo.

E instada a se pronunciar, a dileta filha Mônica não se fez de rogada:

 

“Chamo-me Mônica Guimarãs de Macedo Dalla Vecchia; o patronímico ‘Dalla Vecchia’ foi acrescido quando me casei com Fábio Haick Dalla Vecchia, à época Juiz de Direito Substituto em Curitiba, hoje Desembargador.

Suponho não ser do conhecimento de todos que minha história de amor por um magistrado não teve início quando conheci meu marido, portanto, peço vênia para contar um pouco de minha biografia.

Nasci em 10 de janeiro de 1974, em Curitiba, embora minha vida tenha iniciado quando fui concebida em Ibaiti, interior do Estado, comarca onde meu pai exercia seu ofício.

Caçula, de três filhos, os dois mais velhos homens, e única menina.

Pouco lembro de minha infância antes de nos mudarmos para Foz do Iguaçu. Anteriormente havia residido na própria Ibaiti e Assis Chateaubriand.

Dos primeiros anos, a maior parte já vivendo em Curitiba, e dos prelúdios da juventude, minhas melhores lembranças são na companhia de meu pai, a quem sempre fui deveras apegada, ah como eu amava a companhia de meu pai.

Após essa breve introdução, aviarei a curiosidade dos leitores e revelarei a identidade do magistrado que fora o primeiro amor da minha vida.

Meu pai! Desembargador Celso Rotoli de Macedo. Nossa, quanto orgulho e regozijo ao escrever este nome.

Em sua companhia, lembro-me, como se fosse hoje, de nossas férias em Praia Grande, litoral do Paraná.

Meu pai, nos períodos matutino e vespertino, construída pipas para nos, ‘os Macedo’, e toda a vizinhança.

Levava-nos tomar banho de mar, lá no ‘fundão’. Pelo menos para mim, acho que devido à tenra idade e pequena estatura, parecia estar mesmo no meio do oceano.

Em noites de lua cheia, ele fazia uma fogueira em frente de casa – naquela época não havia avenida, o que separava nosso portão do mar era uma vegetação de restinga.

Mas dessas saudosas lembranças na praia, até hoje, o que mais afaga meu coração era o fato de todas as noites, após o jantar, ele deixar-me ficar na sua companhia, enquanto lidava com os malotes cheios de processos, alguns blocos de papel rascunho – daqueles pardos que nem existem mais – para proferir suas sentenças, mesmo gozando de merecidas férias.

Eu dormia, apoiando a cabeças sobre os braços cruzados, em cima da mesa, só para escutar ‘aquele barulhinho gostoso’ das mãos dele folheando os processos...

Já, um pouquinho mais velha, com cerca de dez ou onze anos, em Curitiba, o acompanhava para trabalhar na sexta Vara Criminal, à tarde, e nos Juizados Especiais de Pequenas Causas, onde ele foi o primeiro ‘juiz supervisor’ do Estado do Paraná, no período da noite. (sim, ele acumulava as duas funções, mesmo já sendo juiz de direito)

No juizado de pequenas causas, até tarde da noite, fazia minha lição de casa, acompanhava as audiências de conciliação e observava atentamente o ar sofrido daqueles menos favorecidos, que esperavam por justiça.

O tempo passou e deu-se que, diante do exemplo paterno e dos meus irmãos mais velhos, também ingressei na Faculdade de Direito. Com a certeza de que me tornaria uma juíza de direito, para, com muito orgulho, seguir os passos de meu pai.

Afinal, ainda menina, minha mãe sempre levava a mim e a meus irmãos para assistirmos as palestras e as aulas que meu pai ministrava. E assim conheci Eduardo Couture: ‘Teu dever é lutar pelo Direito, mas se um dia encontrares o Direito em conflito com a Justiça, luta pela Justiça’.

Naor, o primogênito, que carrega o nome de meu avô (que fora Procurador de Justiça), tornou-se juiz de direito, logo em seguida foi a vez de Marcel, cujo nome nada tem a ver com a afeição de minha mãe pela língua francesa, e, sim, a conjunção das iniciais de meus pais, ‘Mar’ (de Marlene) e ‘Cel’ (de Celso). A esta altura, mais um magistrado descendente do Desembargador Celso Rotoli de Macedo.

Após minha formatura, cheguei a trabalhar como assessora de meu pai, que naquela época era Presidente do Tribunal de Alçada.

Acompanhei de perto sua luta ferrenha pela extinção daquela Corte de Justiça, pois os Juízes do Tribunal de Alçada julgavam cerca de 73% das demandas em segundo grau, do Judiciário Paranaense, enquanto os Desembargadores do TJ apenas 27%.

Mais tarde o assessorei, também, quando Desembargador do Tribunal de Justiça.

Como ainda não conseguira passar em um concurso de nível superior – era concursada do TJPR, porém ocupava o cargo de Oficial Judiciário – iniciei meus estudos para a tão sonhada carreira da magistratura.

Eis que por uma obra do destino, conheci o meu segundo amor magistrado, um homem tal qual meu pai. Acabamos nos casando, e a ‘futura’ terceira magistrada da família deu lugar para ‘o terceiro magistrado’, este, porém, ostentando o parentesco por afinidade.

Mesmo não seguindo os passos profissionais de meu pai, pois hoje sou Tabeliã e Registradora Civil, em Curitiba, aprendi muito com ele e procuro honrar seu nome e seguir seu exemplo no que diz respeito à retidão de caráter e conduta, além da gentileza e humildade no trato com as pessoas.

Não é raro, quando tenho algum compromisso no Tribunal de Justiça, ser abraçada por funcionários, que assim agem quando descobrem que sou sua filha.

Certa feita, fazendo um trabalho comunitário, nas favelas de Piraquara, fui abordada por outra voluntária que me auscultou se era verdade que eu era filha do Desembargador Rotoli de Macedo. Diante da minha resposta afirmativa, a senhora chorou copiosamente e só conseguiu dizer: ‘Desembargador Celso salvou minha vida. Estava prestes a cometer suicídio por problemas financeiros e ele, como um bom Presidente, olhou, não só para os magistrados, mas também para os funcionários, e instituiu o tão sonhado plano de carreiras, esquecido há mais de vinte anos e esperado por cerca de quarenta anos pelos funcionários’.

Assim, diante das exíguas estórias que narrei, neste comezinho e despretensioso depoimento sobre minha vida como filha do magistrado Celso Rotoli de Macedo, posso assegurar sem qualquer sombra de dúvida: Este homem é, e sempre será, uma das melhores pessoas que já tive o privilégio e a honra de conhecer e de conviver.”

 

A agente delegada Mônica, liderança exponencial da classe, extravasa nesse depoimento o mais puro amor filial e admiração inconteste pelo exemplo do pai e do juiz.

Eu tive o grato prazer de conhecê-lo no final dos anos sessenta quando ele judicava na comarca de Ibaiti, ao realizar diligência determinada pela Presidência da República, pois era servidor do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária - jovem acadêmico de direito que era - para ouvi-lo e ao advogado de Pinhalão a respeito de fatos envolvendo questão de terras que resultou em crime doloso contra a vida.

Nossos caminhos sempre estiveram entrelaçados, precipuamente como Magistrados: na entrância final, Tribunal de Alçada e Tribunal de Justiça. Muitas reuniões de trabalho discutindo projetos e o futuro do nosso Judiciário e, nas férias - organizadas em conjunto com o seu fiel escudeiro Juiz de Direito Renato Bittencourt, incontáveis viagens de passeio, acompanhados das esposas.

E no exercício do honroso cargo de Governador do Estado do Paraná não esqueceu dos seus colegas do Tribunal de Justiça, convidando-nos para conhecer o Palácio das Araucárias, à época sede do Executivo Estadual.

 

DESEMBARGADOR ROBSON MARQUES CURY