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História do Judiciário Paranaense - Desembargador Hirosê Zeni


HISTÓRIA DO JUDICIÁRIO PARANAENSE - DESEMBARGADOR HIROSÊ ZENI

Por Des. Robson Marques Cury. Em memória do Des. Hirosê Zeni.

O Desembargador Hirosê Zeni foi um dos meus grandes amigos e incentivadores na magistratura. Nasceu em Piraquara no dia 03/12/1934. Bacharel pela Faculdade de Direito de Curitiba, turma de 1961.

Atuou como bancário e promotor público, antes da aprovação em concurso para juiz substituto, nomeado em 12/06/1964 para Jaguapitã, respondeu por inúmeras comarcas. Após novo concurso, a partir de 06/04/1966 atuou como juiz de direito nas comarcas de Ipiranga, Marilândia do Sul, Loanda, Astorga e Curitiba.

Em 01 de setembro de 1992 tomou posse como juiz do Tribunal de Alçada e, no dia 29 de janeiro de 2002, foi promovido a desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná.

Aposentou-se compulsoriamente em 2004 e faleceu em agosto de 2013.

Conheceu a sua esposa Cibele, de toda a sua vida, em circunstância inusitada, ao visitar a comarca do Juiz Bonejos Demchuk, para avaliar a possibilidade de permuta, por ele foi apresentado à família de um amigo e, dentre as filhas, de imediato enamorou-se dela.

Cibele, renomada professora, homenageou as esposas dos juízes, com a seguinte poesia:

              ESPOSA DE JUIZ
              Acompanhando o esposo em suas lides,
              aqui, ali, além, onde Deus quer,
              a esposa do juiz é a mulher forte,
              o verdadeiro exemplo de mulher!

              Ser boa esposa, meu Deus, é tão difícil!
              Quanto mais ser esposa de juiz!
              Ele em seu ministério o que seria
              sem este misto de mulher e flor-de-lis?

              Ela é aquela que reza, canta e vive,
              espalhando entre as pessoas a esperança,
              tem mãos para servir, serve contente,
              é a heroína do lar que não se cansa!

              Pois neste dia, de saudade tanta,
              entre orações, cânticos e matizes,
              rogo ao Senhor abençoar, e muito,
              as esposas de todos os juízes!

              (Com Justiça e com Afeto II, Artes & Textos, 1999, Comunicare Gráfica Editora)
 

O doutor Hirosê lembrava com nostalgia da comarca de Astorga onde foi muito feliz, ex-comarca do Desembargador Luiz Renato Pedroso, seu amigo de todas as horas, e também ex-comarca do amigo magistrado Humberto Graça Neto, entre outros.

Na minha posse no ano de 2000 no cargo de Juiz de Alçada, tive a elevada honra no ingresso ao plenário de ser acompanhado por ele e pelos Juízes Denise Martins Arruda (depois Desembargadora e Ministra do Superior Tribunal de Justiça) e Josué Deininger Duarte Medeiros (depois Presidente do Tribunal de Alçada e Desembargador).

De alma boníssima, sempre de bom humor, enfrentou com galhardia duas tragédias na sua vida, a perda do filho caçula ainda adolescente, e o atentado contra a sua vida.

Da união com a Professora Cibele, tiveram dois varões. Fernando Cesar Zeni seguiu seus passos, atualmente ocupa o cargo de Juiz de Direito Substituto em 2º. grau.

Fernando Zeni, atento ao nosso escopo de manter viva a memória dos membros do Tribunal, reportou o seguinte fato:

             “Meu pai havia sido promovido por antiguidade para Curitiba no ano de 1981 e atuava na condição de substituto nas varas criminais. Certo dia, ele recebeu telefonema o chamando às pressas para comparecer em nossa residência, situada na Rua Marechal Hermes, no Centro Cívico, em frente à Praça Nossa Senhora da Glória, em razão de suposto acidente que eu teria sofrido. Veio caminhando como sempre fazia, e no trajeto do prédio das varas criminais na Avenida Candido de Abreu, na altura do início da Rua Ivo Leão, por trás foi alvejado por três tiros que atingiram sua cabeça, braço e costas. Como não foram fatais, apesar do sangramento abundante, ele conseguiu correr e entrar na portaria desse prédio, tendo sido atendido pelo zelador, Sr. Luíz, que ligou para a minha mãe, sendo encaminhado para hospital, onde recebeu a notícia que os projéteis não acertaram em nenhuma parte vital. As razões que motivaram o atentado nunca foram devidamente esclarecidas. Considerou-se, à época, que a sua ausência em uma audiência poderia gerar excesso de prazo na prisão preventiva de determinado réu (integrante de quadrilha famosa), o que poderia acarretar, em tese, sua soltura por constrangimento ilegal. Seja como for e passados os momentos mais estressantes, o Presidente do Tribunal de Justiça. Desembargador Heliantho Guimarães Camargo, nos visitou e, prontamente, diante da situação emergencial, designou guarda-costas para a família durante determinado período. Juntamente com meu irmão, éramos levados para a escola Positivo Júnior por seguranças da PMPR, à paisana. Mas, o que sobressai relevante nisso tudo, é o fato de que meu pai, após recuperado dos ferimentos, nos dias que seguiram ao atentado, manteve sua rotina e se dirigia ao trabalho normalmente, fazendo suas audiências, despachos, decisões e sentenças, sem demonstrar abalo emocional, fraqueza ou medo, tanto que posteriormente ele atuou por anos na 9ª. vara criminal como juiz titular. Esta passagem serviu para ilustrar a um jovem de quatorze anos, subscritor desta passagem, que a profissão de magistrado requer o agir desassombrado, com coragem e sem receio de qualquer tipo de represália, mesmo que ameaçada sua própria vida, comportamento que acredito estar presente em todos os membros da Magistratura Nacional.”

Com efeito, ao que consta, Hirosê Zeni foi o primeiro magistrado estadual a ser alvo de atentado, no exercício da profissão, de disparos de arma de fogo que o atingiram em regiões vitais do seu corpo, felizmente sem sequelas físicas.

A bem da verdade, cabe recordar que, nessa época, raramente recebíamos algum tipo de aviso ou recado, que poderia ser interpretado como uma tentativa de interferir no nosso ofício, situações que administrávamos, na imensa maioria, sem necessidade de levar ao conhecimento das autoridades da Segurança Pública ou da cúpula do Tribunal de Justiça.

Todavia, ao longo dos anos, recrudesceram as ameaças e atentados à magistrados do Paraná, e à magistratura brasileira.

Essa preocupação com a proteção dos magistrados gerou a criação da Comissão Permanente de Segurança do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná pela Resolução no. 37 de 23-03-2012, e, do FUNSEG (Fundo de Segurança dos Magistrados), criado pela Lei Estadual no. 17.838 de 19-12-2013, com a finalidade de prover recursos financeiros para a implantação e manutenção do Sistema de Segurança dos Magistrados.
 

Por Desembargador Robson Marques Cury.

Desembargador Hirosê Zeni