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História do Judiciário Paranaense - Desembargador Jorge Andriguetto


HISTÓRIA DO JUDICIÁRIO PARANAENSE - DESEMBARGADOR JORGE ANDRIGUETTO

Por Des. Robson Marques Cury. Em memória do Des. Jorge Andriguetto

Jorge Andriguetto, filho de Antonio Andrigueto e de Lúcia Andrigueto, nasceu no dia 12 de junho de 1925, na cidade de São José dos Pinhais (PR). Casou-se com a Sra. Paulina Magdalena Cenovicz Andrigueto.

Bacharel pela Faculdade de Direito da Universidade do Paraná, colou grau no ano de 1948. Ainda como acadêmico, exerceu interinamente a função de promotor público em São José dos Pinhais. Em 1949, foi nomeado promotor público para a comarca de Pitanga, sendo removido para Ipiranga, Sengés e Ribeirão Claro.

Após concurso foi nomeado juiz de direito no dia 2 de dezembro de 1952 e designado para a Comarca de Palmeira. Em 1953, foi removido como juiz de direito de São João do Triunfo; em 1957, foi removido para Pitanga e depois para a comarca de Apucarana.

Em 1965, foi removido para Curitiba, sendo, em 1970, nomeado juiz do Tribunal de Alçada. No dia 23 de maio de 1978 foi nomeado para o cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná. Ocupou a vice-presidência do Tribunal de Justiça do Paraná durante a gestão 1987 a 1988. Foi o 25º presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná).

No magistério, foi professor da Faculdade de Ciências Econômicas de Apucarana. Em Curitiba, foi professor de Direito Comercial da Faculdade de Direito de Curitiba e também na Universidade Católica do Paraná.

Faleceu no dia 1º de dezembro de 1994.

É patrono do Fórum de Mamborê, da biblioteca do Fórum de Campina da Lagoa e do Fórum Eleitoral de Almirante Tamandaré.

No final dos anos sessenta, eu cursava a Faculdade de Direito de Curitiba no período noturno, e tive a grande oportunidade de aprender direito comercial com o professor Jorge Andriguetto, então juiz de direito na capital.

Décadas depois, já Juiz de Alçada, conheci a Juíza de Direito Substituta Rosana Andriguetto, depois desembargadora como o pai, culta e letrada, sensível poetisa.

Também conheci a esposa do meu professor, dona Paulina Cenovicz Andriguetto, que legou para a posteridade relato das vicissitudes da vida no interior, intitulado O GOSTO DA VITÓRIA:

“1950. Comarca de Sengés, bem jovens, meu marido Jorge Andriguetto e eu. Ele, Promotor de Justiça, acalentando em silêncio seu sonho de ser juiz.

Um lindo rio serpenteava o fundo de nossa casa. Era nossa piscina natural. Amigos inesquecíveis marcaram nossa passagem pelas barrancas do Jaguaricatu. A família Jorge, moradores tradicionais de Sengés, quanta dedicação e carinho ao casalzinho inexperiente.

Ainda estes dias, falando com Yone, viúva do Dr. Wilson Balster, juiz de Sengés naquela época, ela lembrou-me: ‘Paula, quantas aulas de culinária eu te dei? E o Wilson? ... te ensinando a fazer fogo; lembra-se quando você nos participou o nascimento dos pintainhos da galinha que você havia posto para chocar?’ Lembro, sim. Lembro mais, Yone. Da nossa amizade que não esmaeceu.

Judite querida, que vez ou outra me liga para lembrarmos dos tempos que sua boníssima mãe me socorria, matando e limpando um frango, coisa que eu, em hipótese alguma, teria coragem de fazer. Obrigada, Dona Ana. Lá no céu ouça meu agradecimento. Deus abençoe todos os seus familiares. Sengés ficou para trás, na sua bucólica simplicidade, mas também está dentro do nosso coração.

1952. A transferência para Ribeirão Claro nos trouxe novos hábitos. A sociedade exigindo mais. Os Abubahran, que família encantadora! Nossa amizade de hoje é a mesma de ontem. O segredo? A lealdade. Os Chama, os Esbaile, a família Ribeiro de Campos. O depois desembargador Júlio era juiz daa comarca. Que saudades, Laíde! Sentíamo-nos rodeados de bons amigos. Jantares, bailes, banhos nos rios. Uma comunidade árabe pródiga em hospitalidade nos obsequiava em Ribeirão Claro. Foi lá que fiquei grávida do primeiro filho, nosso Jorge Júnior. Quando estávamos em Ribeirão, Jorge fez concurso para Juiz de Direito. Passou em primeiro lugar.

1953. Jorge juiz. Primeira comarca, Palmeira. Incumbência, substituir o juiz titular, o grande desembargador, amigo inesquecível, ele e todos os seus – Desembargador James Portugal de Macedo. Sempre nos honrou com sua amizade. Palmeira, que linda! Limpinha, tradicional, pertinho da capital. Esposa de juiz, novas responsabilidades ... Nossa casa de madeira tão grande, com árvores no quintal, onde eu colocava nosso nenê no carrinho para apanhar sol. Jorge ia e vinha, atendendo quatro comarcas ao mesmo tempo: Palmeira, São João do Triunfo, São Mateus e Rio Negro.

Palmeira dos Malucelli, dos Romero de Souza. Dr. Bacila, médico humano e capaz. Dr. Layne e família. Professor Juvaldir e Belinha. Belinha que fez bordados lindos para o enxoval do Jorginho. Perdoem-me os muitos que omito por falta natural de memória. Com certeza, todos estão gravados no coração.

1954. São João do Triunfo. Jorge, juiz titular da comarca. Trabalho e mais trabalho. Em cada processo, o Direito, a Justiça nos traziam um amigo gratuito. A sentença, a decisão do juiz ... na hora de julgar nem todos entendiam ... Em meio a todo o trabalho, desfrutávamos dos dengos e carinhos dos amigos, compadres e da família forense. Festas de igreja, piqueniques ... assim era a nossa agenda social. Audiências, júris, processos estudados madrugada a dentro. Jorge fazia tudo com amor. Eu era feliz, vendo-o fazer o que gostava. Processos madrugadas a dentro. Durante o dia, Jorge atendia pessoas da comunidade no fórum. Pessoas que esperavam uma orientação. Costumava dizer: ‘Estou em casa para atender a qualquer hora, sou pago para isso, e juiz não deve se dar ao luxo de ter horários marcados para aqueles que o procuram’.

Convivi com esse credo até que a morte nos separasse. Hoje compreendo. Impossível comparar a função judicante com poder exclusivamente político. Principalmente em nosso país, onde não há patriotismo e quando a ambição desenfreada pratica diuturnamente a injustiça.

1955. Peabiru. Sertão a desbravar. Nossa mocidade, juventude, podemos dizer, a serviço de uma causa. Hoje nos apavora lembrar o que passamos. Éramos jovens. O perigo? Era aventura. Sofremos. Não nos omitimos. Não lavamos as mãos. Não fizemos jogos políticos. A natureza nos deleitando com o verde de suas matas, o murmurejar dos rios e o canto dos pássaros. A sociedade vinda de todos os brasis aportou ali. Nos dávamos as mãos nas horas difíceis e alegres. Os júris varando a madrugada ... Uma cadeia que era um rancho de madeira, geralmente com muitos presos. Crimes bárbaros. Eu ignorava os riscos e os perigos. Cabecinha oca ou jovem demais para ter preocupações. Não sei ... Paulo César, nosso segundo filho, desfrutou ao lado do irmão Jorge a liberdade sadia de uma infância no interior. Dois anos em Peabiru, quantos amigos fizemos! Comadre Eloina, dona Joaquina. Que exemplos de vida! Tenho a todos no meu coração. Transmito sempre aos meus filhos a riqueza destas lembranças

Nômades, seguíamos, vendo com o sofrimento de todos que a vida é feita de lutas. O trabalho nos levava sempre a um porto seguro, onde vislumbramos a vitória, que só a consciência pode descrever.

1957. Apucarana, onde concluímos as andanças pelo interior do estado. Terra vermelha. Apucarana que nos trouxe Rosana, hoje juíza na capital. Adquirimos a nossa primeira casa, eram os idos de 1957. Dona Maria Toth uma segunda mãe. Ela e o esposo, casal de húngaros, nos venderam a casa de sua propriedade, casa de madeira, aconchegante. Senhor Victor, Geny, amigos de todas as horas, seus filhos, amigos dos nossos, viviam os folguedos da época. De jeep, Senhor Victor levou-me à maternidade, quando do nascimento de Rosana. Dr. Hayton e Rachel, casal querido, filhos maravilhosos. Antonio e Ivone. Todos sempre em nossas lembranças felizes.

Numa ‘quase’ apresentação teatral, Procópio Ferreira, nosso inesquecível Procópio, teve um afaire com o delegado local. Deixou o público à sua espera e sumiu da cidade. Jorge bem justificou: ‘O gênio tem direito a ser temperamental’. Ficamos a ver navios ... nas mãos a devolução do dinheiro dos ingressos. ‘Esta noite choveu prata’.

Que fazendas lindas visitamos em Apucarana! Ubatuba, dos Schindler; Nova Esperança, com uma capela convite à meditação. Em Apucarana assisti pela primeira vez a sagração de um Bispo, o mesmo que crismou nossos filhos.

O Clube 28 nos deliciava com as apresentações do Cassino de Sevilha.

Oito anos. Tempo para pintar um quadro lindo de recordações. Nos orgulhamos de ter uma filha apucaranense. Os dois filhos cursaram a maior parte do primeiro grau em Apucarana. Lá fizeram amigos e trouxeram lembranças felizes. Hoje, aqui na capital, procuramos manter contatos, sempre que possível, com estes amigos queridos de nossas vidas.

Para os que nos leem e não estão bem informados sobre a realidade e a carreira de um juiz, essa árdua caminhada, feita com dignidade, altruísmo e renúncia, ao final tem o gosto da vitória, o sabor de quem escolheu o melhor!”.

São filhos desse distinto casal: o engenheiro Jorge Andriguetto Filho, cujos filhos seguiram essa área; o médico Paulo Cezar Andriguetto com filhos também no mesmo campo de atuação; a desembargadora Rosana Andriguetto de Carvalho, cuja filha Julia cursou Publicidade e Comunicação, e agora na maturidade estuda direito; e, Eliseu de Jesus
Santos Rocha, o chamado de filho do ‘coração’, criado desde os sete anos de idade, bacharel em direito e funcionário concursado do Poder Judiciário

A magistrada Rosana, caçula que seguiu a carreira do pai, integrante da Academia de Letras José de Alencar, poetou “Saudade”:

Como cheiro de pão de Santo Antonio

Como cheiro de chuva sobre a terra

De perfume no ar

Do brilho dos teus olhos

Do teu sorriso na minha memória

De um afago.

E vem um silêncio ensurdecedor...

O peso imensurável do vazio

É dor em conta-gotas

Dilacerando as entranhas

Amortecendo a alma, o espírito

Até ressuscitar do indivíduo que sobrevive

De uma lembrança que se dissipa nas brumas,

No nevoeiro, no pôr do sol,

No luar, na névoa, no piscar dos olhos

Do passageiro da esperança.

Por Desembargador Robson Marques Cury.

 


Desembargador Jorge Andriguetto