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História do Judiciário Paranaense - Desembargador José Simões Teixeira


HISTÓRIA DO JUDICIÁRIO PARANAENSE - DESEMBARGADOR JOSÉ SIMÕES TEIXEIRA

Por Desembargador Robson Marques Cury

José Simões Teixeira, filho de Luiz Simões Teixeira e Maria Albejante Simões Teixeira, nasceu no dia 8 de outubro de 1937, em São Paulo (SP). Bacharel em direito pela Universidade de Direito do Vale do Paraíba, turma 1966. Casou-se com Maria Ângela Tassi.
 
Exerceu a advocacia por onze anos em São Paulo, Mogi Mirim e Curitiba. Ingressou na magistratura, após prestar concurso público, como juiz adjunto, exercendo suas funções nas comarcas de Santo Antonio da Platina (sede), Ribeirão do Pinhal, Joaquim Távora, Jacarezinho e Ribeirão Claro.
 
Após novo concurso, obteve aprovação para o cargo de juiz de direito titular, assumindo a comarca de Chopinzinho (entrância inicial), permanecendo por quase cinco anos e atendendo, por designação e concomitantemente, a comarca de Coronel Vivida. Após, foi promovido à comarca de Cascavel, como juiz substituto de entrância intermediária, atendendo, sem prejuízo de suas atribuições normais, a comarca de Corbélia. Assumiu, como titular, a 2ª Vara Criminal da comarca de Cascavel.
 
Em 1987 foi promovido à comarca de Londrina, judicando na 2ª Vara de Família, Menores e Anexos. Removido, a pedido, para a comarca de Curitiba em 1990, atuou nas Varas de Família (1ª e 2ª), 1º Tribunal do Júri e Varas Criminais. Atuava na 143ª Zona Eleitoral, quando, em 1992 assumiu a 13ª Vara Cível permanecendo até março de 2002.
 
Em 11 de março de 2002 foi nomeado juiz do Tribunal de Alçada e, no dia 31 de dezembro de 2004, foi promovido ao cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná.
Aposentou-se, compulsoriamente, no dia 8 de outubro de 2007.
 
Trabalhamos no final dos anos setenta ele na comarca de entrância inicial de Chopinzinho e eu na comarca de Dois Vizinhos, e depois, em meados dos anos oitenta na já comarca de entrância final de Cascavel, ele na 1ª. vara criminal, e eu na 2ª. Vara cível.
 
Sua esposa, a consagrada artista plástica Maria Ângela Tassi Simões Teixeira, recordando do périplo pelo interior, escreveu ‘Janelas’:
 
“Gosto tanto de janelas! Pelas janelas abertas, pelas janelas envidraçadas, das casas e casas em que morei durante o tempo das viagens por tantas comarcas, quando vivenciamos momentos de nossas vidas agora como quadros coloridos e bem pintados em nossa memória. De cada lugar, uma paisagem, tipos pitorescos, alguns mais, alguns menos marcantes.
 
Primeira comarca, Santo Antonio da Platina. Lembro-me como fosse hoje, depois de tudo encaixotado, seguiu a mudança para onde já estava o juiz José Simões Teixeira, meu marido, que sempre chegava primeiro para assumir seu cargo e tomar providências.
 
A partida. Segui, deixando as crianças com meus pais, aos cuidados da querida Aurora, preta fiel, empregada de minha mãe que fazia de meus pequeninos seus filhos.
 
Foi com tristeza que deixei para trás minha Curitiba. Na rodoviária, peguei o ônibus, sem o conforto dos atuais, vendo papai dar adeus com o Luiz Afonso no colo e Maria Ignez agarrada na mão de mamãe. Tão pequeninos, tão loiros. Foi pela janela do ônibus que vi esse
 
Pensativa, na estrada, rememorei minha vida que deixei.
 
Chegada. Da janela vi meu marido à minha espera, sorridente e feliz. A casa, a poucos metros dali, bem em frente à rodoviária. Fomos a pé. Ao entrar, nossa! Os móveis espalhados, atravancando passagens. Mas dormi feliz, no meio daquela bagunça toda.
 
Ao amanhecer, fitei pela janela o que veria por algum tempo: passageiros com malas toscas, sitiantes chegando ou partindo com sacos nas costas, roupas típicas, circulando, sentados em bancos, fazendo cigarros de palha com rolo de fumo picado. Rostos enrugados, chapéu de palha, mãos calejadas, são quadros da vida que via da minha janela.
 
Na mesma manhã, Teresa, funcionária do fórum, veio junto com outros e me ajudou a por tudo no lugar. Andando pela cidade, o que me encantou logo de início foram os armazéns, desses que se vêem em novela. Tinha de tudo: panelas, frigideiras penduradas, sacos repletos de milho, farinha, feijão, ervilha seca, todos abertos, no chão, com aquelas pás para servir os fregueses. Fumo de rolo, toicinhos e salame, réstias de cebola e alho, tudo pendurado, misturados às peças de tecido, papéis, cadernos, etc... Uma confusão poética.
 
Após uma semana fomos buscar as crianças. Maria Ignez, nos seus três aninhos, logo decorou o roteiro dos ônibus de tanto ouvir o alto-falante da rodoviária.
 
Logo veio a Dita, prima da Teresa, preta ladina, para ajudar-me em casa. Magrinha, já com cabelos brancos, que escondia debaixo de um lenço estampado. Apaixonou-se pelo Luiz Afonso, fazendo todas as suas vontades. Sempre que podia, largava tudo para brincar com ele. Assim, eu saía sossegada para lecionar no Colégio Santa Terezinha (de freiras), bem em frente ao fórum.
 
No meu caminho para lá sempre havia uma feita com frutas e verduras maravilhosas. Ainda ouço, fechando os olhos, o burburinho dos feirantes oferecendo suas mercadorias aos fregueses, naquele movimento de vai e vem de pessoas na calçada, batendo com o salto no chão.
 
Muitas amizades lá fiz. Entre elas, o prefeito, médico, Dr. Alício Dias dos Reis, e sua esposa D. Dora Ega, que certo dia me mostrou sua rara coleção de xícaras, algumas usadas por D. Pedro, Getúlio Vargas, e outros. Guardo uma gratidão para com Dr. Alício. Quando José foi assumir a comarca de Chopinzinho, fiquei sozinha com as crianças e a empregada. Numa noite, minha casa foi rodeada por assaltantes. Sabendo disso, Dr. Alício enviou imediatamente um guardião, que apesar da idade e barbas brancas assumiu seu posto, passando noites e noites acordado, e assim protegendo e dando-me segurança.
 
Um ano depois... Pela manhã, dia de mudança. Já com o caminhão encostado em frente à casa, a Dita com o Luiz Afonso no colo saiu dizendo que iria mostra-lo aos seus parentes. Passou toda a manhã, veio a tarde que virou noite e ela nada. Mais tarde, voltou cantando com ele dormindo nos braços. Se fosse hoje...
 
Chegamos em Chopinzinho. Subimos o morro íngreme. Lá estava a casa. Bonita e acolhedora. Na frente um grupo de pinheiros, um deles se destacando pelo seu porte, ficava na beira da rua de terra. A cidade se descortinava a nossos pés. Dentro, a casa vazia, esperando para ser habitada. Logo veio a vizinha para dar as boas vindas, emprestou-me uma vassoura de cabo comprido para tirar as teias de aranha do teto. Barulho de motor. O caminhão subindo o morro rateando. E começou a função, móveis, caixas... Devagar, aqui e ali, tudo foi se arrumando.
 
Chuva. Vi pela janela que lá vinha Bernardete, a vizinha, de guarda-chuva, panelão na mão, trazendo nosso almoço, um risoto caprichado, quentinho e gostoso.
 
Nas tardes de sol, tocando órgão, este encostado à janela, com o céu no coração e na alma, olhava eu de minha janela a paisagem. Bem lá embaixo, a estradinha sinuosa, nela uma casinha de madeira, a riqueza dos tons de verde, pinheiros, parecia um presépio vivo. No jardim, as crianças brincando, suas vozes parecendo trinados de passarinhos.
 
O sol se punha quase às 20 horas, a noite era dia. Calma, silêncio, somente o tac... tac... da máquina de escrever do juiz trabalhando.
 
Num natal, convidei casais amigos para festejarmos juntos com um jantar. Antes fizemos amiga secreta, e no vai e vem de bilhetinhos resolvi provocar confusão, enviando à todas bilhetes anônimos ilustrados e divertidos, com a promessa de premiar aquela que me descobrisse. Foi uma festa. Não queriam outra coisa. E no dia marcado todas apareceram com seus bilhetes, na esperança do prêmio. Uma ganhou.
 
Quase cinco anos se passaram. Agora, Cascavel. Já estávamos a cinco com o nascimento do José Filho. Quando chegamos, que casa linda e grande!. Bairro nobre. Da janela da varanda eu podia ver um amplo jardim, repleto de flores, folhagens, árvores. Sempre cheios de crianças. Por aquela rua que via da janela do quarto caminhei todos os dias, indo e voltando para a escola junto aos meus amados alunos, nossa casa sempre cheia deles, leais amiguinhos. Através da janela do carro os via acenando na vinda e na despedida.
 
Quanta coisa aprendi lá. Até a dirigir carro!. Amigas, muitas.
 
Foi em Cascavel que enriqueci minha vida espiritual, quando comecei, com Frei Lívio, a Escola em Busca do Ser. Nela foi que conheci Deus mais de perto. Este Deus verdadeiro que sempre senti dentro de mim.
 
Os filhos crescendo... E a vida do juiz, trabalho e trabalho. Veio a remoção, que apesar de todos os pesares, pelas mãos de Deus, pois nada é maior ou mais poderoso que Ele, nos levou à despedida de Cascavel, deixando nossa casa (esta foi adquirida por nós). Mas como a verdadeira casa não é construída só de paredes, fomos para Londrina.
 
Ah Londrina! Esta cidade me dá a sensação que de dentro de sua terra explodem raios dourados, de tanta luz que emana. Da janela do carro, vi a estrada, a chegada. Noite. Rua escura. Casa apagada e grande. Amanheceu. Na porta, o caminhão, e na calçada a fiel Aurora, agora morando lá. Seu rosto lustroso, sorriso iluminado pelos dentes brancos. Junto, alguns hóspedes.
 
Depois de um ano, fomos morar na casa ao lado. Que casa feliz! Em meio a inúmeros amigos, Maria Ignez festejou seus 15 anos. Da janela de cima, via o portão se abrindo, trazendo as amizades que sempre estavam por lá e que ainda vem ter conosco.
 
Foi pela janela do carro que vi pela primeira vez a rua abençoada, com árvores de lado a lado, com seus galhos se emaranhando, formando um teto de folhas, se misturando ao azul do céu, rua que me conduziu ao ateliê do Paulo e ali vi-me de volta às artes plásticas. Barracão grande, povoado de anjos acredito, à beira do lago Igapó. As reuniões com aulas de gravura, no meio da alegria com amizades duradouras, eram de grande paz, companheirismo, cheias de arte e encantamento, muitas descobertas.
 
Em Londrina tudo foi perfeito, Deixei lá não amigas, mas anjos-irmãs. Hoje sempre que podemos nos visitamos.
 
E agora em Curitiba, revi minha cidade tão crescida, diferente da que deixei. Reencontros. Velhas amigas. Abraços. Sem papai.
 
Aqui das janelas do meu apartamento, tanto sol, tanto verde, tanto progresso, vejo meu Colégio Cajuru.
 
Filhos, todos moços. Tudo continua. Quantas coisas lindas acontecendo.
 
E a vida do juiz, meu José, de trabalho e mais trabalho, mesmo sem ser reconhecido. Mas valeu e vale a pena. Adoro olhar pelas janelas a vida passando, sendo que a maior janela que possuímos são nossos olhos, que tudo vêem, computam e gravam.
 
Na capa deste livro, ilustrei a varanda de minha casa em Chopinzinho, com cadeira de balanço, bola e boneca, que se misturam e contrastam com o escritório do juiz, sua mesa, agendas e processos. Na estante, o símbolo da Justiça.
 
Com este depoimento presto minha homenagem às cidades em que vivemos, que nos acolheram com tanto carinho e foram tão importantes por acrescentarem a nossas vidas o crescimento de nossas almas, nos fazendo ver sempre Deus na natureza e nas pessoas”.
 
Desembargador Robson Marques Cury 
 
Desembargador José Simões Teixeira