Desembargador Jorge Wagih Massad


DESEMBARGADOR JORGE WAGIH MASSAD

Por desembargador Robson Marques Cury

Temos muito em comum, o ideal pelo progresso do judiciário, o gosto pela música, pelas viagens, a paixão pelos esportes e pelos carros antigos e motocicletas, possivelmente em razão do sangue fenício que corre nas nossas veias, povo que formou uma civilização na região da Palestina, precisamente nas regiões onde hoje ficam o Líbano e parte da Síria e de Israel.  

Jorge Massad é apaixonado por carros desde criança, quando ganhou dos pais, aos quatro anos, um jipe vermelho de pedais que permitia locomoção, crescendo com esse fascínio. 

Seu passatempo preferido é lidar com carros antigos. Começou seu invejável acervo exatamente com um Jeep vermelho 1972, atualmente abrigado em espaçosa garagem. Costuma esclarecer que não são ‘carros velhos’, como muitos costumam dizer, mas preciosidades sobre rodas – verdadeiras joias – que proporcionam o prazer de mostrar às gerações futuras a inteligência, a evolução e o aperfeiçoamento da relação do homem com a máquina ao longo dos tempos. 

Tenho por ele muita admiração e respeito, porquanto tudo o que faz é muito bem feito, especialmente em seus julgamentos, com sentenças e acórdãos, verdadeiros tratados jurídicos. Mais não fez porque não se lhe foi oportunizado a chance para tanto. 

Contribuímos eficazmente para a aprovação da emenda constitucional nº 05/2004 que unificou os Tribunais de Alçada aos Tribunais de Justiça. Designados pelo Presidente João Luís Manassés de Albuquerque do Tribunal de Alçada do Estado do Paraná, comparecemos ao Congresso Nacional em Brasília e visitamos os deputados e senadores levando memoriais. Recordo que o Senador Álvaro Dias nos deu expressiva atenção. Jorge Massad como diretor da Associação dos Magistrados Brasileiros tinha trânsito livre em todas as esferas federais. Inestimável o seu trabalho na capital federal para a unificação dos tribunais. 

Escreveu o livro “Uma História de Amor – Graciane”. Capa ilustrada pela neta Isabella. Considero magnífica a obra. Retrata o intenso amor desse casal, narrando momentos marcantes vivenciados.  

Maravilhosas são as lembranças dos seus filhos sobre a vida do juiz de direito do interior, realçando a união da família: 

 

André Luiz 

"Uma história divertida que me lembro da passagem de meu pai pelo interior, foi quando ele teve que se deslocar de Sengés até Wenceslau Braz, por conta da inauguração do Fórum naquela Comarca, que contaria com a presença do Des. Heliantho Camargo, à época Presidente do TJPR. 
Como sempre foi muito cuidadoso com seus carros e havia chovido bastante na região por aqueles dias, preferiu ir de ônibus à solenidade. Na rota, que passava por estradas não asfaltadas, era comum que o pessoal embarcasse com galinhas e enxadas, entre outros itens do mesmo estilo. 
Ao entrar no ônibus de terno e gravada, os demais passageiros foram logo perguntando se ele era pastor e de qual congregação, já que estava formalmente trajado para a solenidade de inauguração do Fórum. 
Logo no início do trajeto, por conta das chuvas recentes, o ônibus encalhou. O motorista então, como era de costume, pediu que os homens descessem para ajudar a desatolar o veículo. 
Como ele estava de terno e gravata, pois iria encontrar o Presidente do Tribunal, preferiu permaneceu no interior do ônibus, fato que por certo não passou despercebido pelo motorista e demais passageiros. 
Seguiram viagem, mas logo o ônibus atolou novamente. Desta vez o motorista foi mais enfático, olhando na direção dele, gritou: 
‘Agora, descem TODOS os homens para ajudar!!’ 
Ele se sentiu na obrigação e logo que desceu, afundou o pé até a altura da canela no barro! Ajudou a desencalhar o ônibus, mas não sem sofrer as consequências que só quem já participou de uma operação dessas sabe. 
O ônibus andou uns 800 metros para sair da parte mais enlameada e os homens que ajudaram a desatolar ainda tiveram que caminhar esse trajeto até embarcar novamente. 
Chegando na Comarca, encharcado e enlameado, ele ainda imaginava encontrar um engraxate, mas não havia ninguém. 
Conseguiu lavar os sapatos e a barra da calça no chafariz da praça e se ajeitar para fica minimamente apresentável para encontrar a solenidade de inauguração do Fórum da Comarca de Wenceslau Braz. Ao final, chegou a tempo de participar do evento, ainda que um tanto molhado.  
Essa história considero hilária e muito emblemática do que era a vida no interior naqueles bons tempos." 

 

Carlos Eduardo 

“Embora tenhamos nascido em Curitiba, eu meu irmão tivemos a sorte e o privilégio de viver parte de nossa infância e pré-adolescência no interior do Estado do Paraná, em razão da carreira de nosso pai. Minhas irmãs por serem mais novas não puderam desfrutar desta rica experiência. 
Das muitas boas lembranças desse período me recordo que no início, até pela minha pouca idade, tinha dificuldade de entender a profissão do pai. Só sabia que ele acordava muito cedo, sempre usava terno e gravata, trabalhava muito, nos finais de semana sem terno e gravata, tinha hora para sair, mas nunca para voltar e parecia gostar muito do que fazia. Nem imaginava o que seriam aqueles inúmeros processos e livros que ele carregava para cima e para baixo em uns malotes verdes, junto com uma máquina de escrever Olivetti de cor laranja. 
Com o passar do tempo fui percebendo que parecia mais do que um simples trabalho o que ele fazia, porque as pessoas da cidade o viam como uma certa reverência e um respeito elevado, sempre lhe chamando de ‘doutor’ e cumprimentando-o em todos os locais que estivesse. 
Neste período percebi também que algumas pessoas iam até nossa casa e batiam perguntando se ali morava o Juiz e ele sempre atendia a todos, em qualquer horário que fosse, de forma solícita, paciente e educada, procurando sempre ajudar da melhor maneira que pudesse. 
Mas entendi melhor a profissão do meu pai já mais adiante num fato ocorrido na minha infância. 
No final dos anos 80, estava na moda entre as crianças e adolescente, principalmente os meninos, as ‘mobiletes’, um tipo de bicicleta motorizada que ligava com pedaladas e funcionava com gasolina misturada com óleo motor. Não precisava usar capacete e se pilotava no meio do trânsito, em velocidade final que chegava a 60 km/h. Outros tempos, mais perigosos mas mais divertidos. 
Sempre fui aficionado por moto, algo que também ‘puxei’ do meu pai. A primeira vez que vi uma andando na rua só pensava em crescer o mais rápido possível para alcançar nos pedais e conseguir pilotar uma. 
Alguns de meus amigos de escola na época ganharam suas mobiletes no natal ou aniversário e eu sonhava em ter a minha. 
Meus pais sempre nos deram praticamente tudo que queríamos, mas uma lição que meu pai me passou e que tento fazer com meus filhos é nunca dar as coisas de modo fácil, para valorizar o que se pede e procurar fazer com que entendam com são difíceis as conquistas da vida. 
Então quando das minhas primeiras tentativas pela mobilete ele me disse ‘não, porque é proibido para menores de idade’ e eu pensei que era a velha tática e continuei insistindo, até me dispondo a trabalhar para ajudar a pagar ou procurar uma usada que seria mais barato. 
Por mais que continuasse insistindo e trazendo os mais variados argumentos, alguns que eu achava muito bons, ele continuava negando e aí me disse ‘que eu nunca iria ter uma’. Aquilo me deixou revoltado e então falei que ‘ele era o Juiz, mas estava sendo injusto porque todo mundo tinha o direito de ter uma e só eu que não’. Então ele me explicou ‘que eu não era todo mundo porque era filho dele e que se eu pilotasse a mobilete pelas ruas estaria desrespeitando não somente a lei, mas também sua autoridade como Juiz da cidade’. 
Nunca mais pedi a mobilete e entendi que o trabalho do meu pai era muito mais do que um simples trabalho, mas uma vocação que ele sempre exerceu com muita honra e dignidade e com certeza é parte do imenso legado de sua vida.” 

 

Maria Fernanda 

Tarefa árdua falar do meu maior exemplo, meu herói, melhor amigo, conselheiro, profissional dedicado e além de tudo isso o melhor pai do mundo! 
Me recordo pouco do tempo no interior, apesar de ter nascido em Guaíra, já era a 3ª Comarca pela qual o pai passava. 
Cresci ouvindo muitas histórias ocorridas no interior, sendo que em sua maioria os fatos eram engraçados e nada corriqueiros, coisas que apenas quem teve o privilégio de morar no interior sabe. 
Muitas foram as lembranças já na Capital Curitiba, muitos passeios com os carros antigos e motos, além das recordações dos finais de semana em que eu me sentava no escritório com o pai, sem entender ao certo sua profissão, apenas observando que ele escrevia muito, pois na época fazia suas sentenças a mão, usando enormes blocos de papel, canetas e como combustível seu inseparável ‘Halls sabor cereja, que dividíamos! 
Ao longo dos anos fui compreendendo e passando a admirar cada vez mais a sua profissão e a vocação com que sempre dedicou, e ainda dedica, a sua vida, fazendo o melhor que pode em cada processo, e a diferença na vida das pessoas. 
Achava engraçado ser conhecida no bairro por morar na casa do Juiz… 
Depois, por ser chamada de filha do Juiz… 
Na faculdade virei Massad, sobrenome conhecido e admirado por muitos! 
Uma passagem na infância que me marcou, já em Curitiba, foi quando na escola perguntaram a profissão dos pais, e quando disse que o meu era Juiz, todos os meninos quiseram vir a minha casa para conhecer meu pai. Porém quando chegaram e souberam que ele não era ‘Juiz de futebol’ ficaram um pouco desapontados, mas na sequência quando o conheceram e ele explicou o que um Juiz fazia, eles não paravam de fazer perguntas e não queriam ir embora. Passou a ser o ídolo dos meus amigos de infância! 
Além de magistrado, pai de família e amigo inseparável, o pai me ensinou muito sobre o respeito que devemos ter com todos, principalmente com as pessoas mais vulneráveis e os mais necessitados, não esquecendo que somos todos iguais. O seu coração é de uma bondade infinita. 
Outro ensinamento precioso, quando estava em dúvida sobre fazer mais uma faculdade, foi o seu conselho de que, a educação é a maior riqueza que ele poderia me proporcionar! Sempre nos incentivando a estudar e conhecer o mundo. 
Atualmente tenho o prazer de desfrutar de sua companhia em nosso ‘home office’, trabalhando ao lado do meu maior exemplo, tirando dúvidas, adquirindo mais conhecimento e podendo aproveitar a sua excelente companhia e presença na minha vida. 
No final do ano passado ele me presenteou com uma foto que achou com os seus documentos, a única foto do dia da sua posse, a qual hoje fica ao meu lado todos os dias!” 

 

Maria Luiza 

“Apesar de ter nascido após a época do interior, ouvi muitas histórias e sempre notei a importância que essa fase teve em sua vida, afinal foi apenas o início de uma caminhada para a profissão escolhida.  
Quando era mais nova, sem entender direito sobre seu trabalho, eu sabia que era algo especial. Fui crescendo e o pai foi me ensinando sobre seus valores. Ele me ensinou sobre justiça, me ensinou a pensar nos outros e ensinou que pra tudo na vida existe sempre dois lados. Me mostrou o que é ter empatia. Aprendi a levar esses valores comigo desde então.  
Pra mim o maior dos ensinamentos que ele sempre me fala é que 'tudo passa'. Sempre foi forte pra repetir (não importa quantas vezes forem necessárias) que: ‘tudo passa, até uva passa’, com o olhar e o sorriso de esperança que o melhor está por vir, mesmo que no momento as coisas estejam ruins, nunca dá brecha para a desistência, me ensinando sempre a ter fé.  
Lembro dos incontáveis momentos que estivemos juntos. Cada carro que ele queria e me mostrava pelo mercado livre que quando chegava ele me ligava dizendo ‘Má, vamos precisar fazer novas fotos!’, todo animado. Os inúmeros passeios de Jeep, moto, e um pouco com cada carro. Também os vários momentos que ficamos na rua esperando resgate quando os carros pifavam… Lembro também das incontáveis vezes que as sextas-feiras íamos no Carrefour e saímos de lá sempre comendo nhá bentas falsificadas e íamos tomar caldo de cana no vizinho. 
O pai tem a habilidade de tornar tudo muito leve, sempre. Consegue tirar riso através de algo que dá medo e consegue achar graça para tudo, em qualquer situação. É uma pessoa que sempre consegue te fazer rir.  
Além da alegria que ele me ensinou a perceber diante de certas coisas, ele dividiu comigo seu lado musical. Desde criança me mostrou o teclado e tocávamos juntos. Lembro do primeiro Cássio que ele me deu e quando eu apertava o botão que tocava música sozinha, ele demonstrava como se fosse eu que estava tocando, me fazendo acreditar que eu conseguiria. Foram incontáveis momentos cantando, tocando juntos, nos emocionando, que todas as músicas se tornaram uma extensão dele em mim, que eu carrego comigo todos os dias. E o mais especial disso é que ele me ensinou que sempre vamos estar juntos.” 

 

Biografia 

Jorge Wagih Massad, filho de Wagih Miguel Massad e Corina Trilha Massad, nasceu no dia 15 de março de 1949, em Curitiba (PR). Bacharel pela Faculdade de Direito de Curitiba, turma 1972.  

Aprovado em concurso público para juiz substituto, em 30 de agosto de 1978 foi nomeado para a comarca de Cornélio Procópio. Exerceu a função nas comarcas de São Jerônimo da Serra, Congonhinhas e Curitiba. Após novo concurso, em 28 de setembro de 1979 foi nomeado juiz de direito da comarca de Sengés judicando, ainda, nas comarcas de Guaira, Irati e Curitiba.  

Em 26 de maio de 2000 foi nomeado juiz do Tribunal de Alçada e, no dia 31 de dezembro de 2004, foi promovido a desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná.  

Presidiu a Associação dos Magistrados do Paraná no biênio 2000/1. Foi vice-presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros – na Gestão Cláudio Baldino Maciel - 2002/04.