O museu LUME: Lugar de Memória, que homenageia o juiz Aldo Fernandes, no Centro Judiciário de Curitiba, participou da 22ª Semana Nacional de Museus com o lançamento do livro “Vozes da resistência. Memórias da luta contra a ditadura militar no Paraná” (Banquinho Publicações, 2024) na quarta-feira (15/05). Estiveram presentes no evento alguns dos 60 autores que deixaram seus depoimentos registrados na obra coletiva, contando suas experiências durante a ditadura cívico-militar brasileira. “O encontro foi marcado pelas intervenções de muitos dos autores, vítimas de torturas e prisões arbitrárias utilizadas pelo Estado Brasileiro contra os opositores do regime militar, que se prestaram tanto para revelar às novas gerações o que ocorreu no passado como para chamar a atenção para a necessidade de se impedir que tais fatos se repitam”, explicou a desembargadora Maria Aparecida Blanco de Lima.  

Alguns autores do livro são ex-presos políticos que participaram da resistência no Paraná e alguns ficaram presos no antigo presídio do Ahú nas décadas de 1960 e 1970. A obra será distribuída para bibliotecas escolares e públicas e poderá também ser adquirida no LUME. Por decisão dos autores e editores, toda a renda gerada com a venda do livro será doada às vítimas da tragédia ambiental do Rio Grande do Sul.  Participaram também do evento a desembargadora Astrid Maranhão Ruthes, a coordenadora do LUME, Claudia Hoffman, e a coordenadora do Comitê de Memória e Justiça do Paraná (Cemvej), Ivete Caribé. “Este é um dia muito emocionante para nós”, afirmou Claudia Hoffmann, coordenadora do LUME.

Histórias da resistência paranaense

A obra coletiva foi organizada por Aluísio Palmar, ex-preso político  de 81 anos,  que selecionou histórias como “Militância no Oeste do Paraná – Nova Aurora”, de Izabel Fávero, “1971 – Quando enganamos a repressão da ditadura militar na UFPR”, de Lafaiete Neves, “Breve relato sobre os acontecimentos de março de 1978, narrados no documentário Os onze de Curitiba, do cineasta Valêncio Xavier”, de Léo Kessel, e “Ditadura interrompe sonhos, mas não a vida”, de Sirlei Fernandes, entre tantas outras nas 480 páginas do livro.  “Após passar oito anos no exílio, em maio de 1979, eu entrei clandestinamente no Brasil. Os ventos da redemocratização sopravam forte em todo o país, com manifestações públicas nas praças e avenidas”, contou Aluísio Palmar, em seu artigo “Jornal Nosso Tempo, o nanico que se fez gigante”, em que narra a criação de um jornal em Foz do Iguaçu. O médico José Ferreira Lopes, conhecido como Dr. Zequinha, também estava presente no lançamento do livro. Ele está na premiada fotografia da capa, segurando um estilingue, e escreveu “Da resistência à clandestinidade: a trajetória de um combatente da liberdade”.  

Ainda dentro das manifestações da 22ª Semana Nacional de Museus, o LUME organizou uma palestra com Luiz Gabriel da Silva, doutorando em História e mestre em Ensino de História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), que é autor do livro “Ditadura em Curitiba?”, no dia 13 de maio. No dia 14 de maio foi organizada uma visita mediada com acessibilidade ao museu, orientada por Elaine Moreira, que é tradutora e intérprete de Libras pela UFPR.

O tema dessa 22ª edição da Semana Nacional de Museus, organizada pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), é “Museus, Educação e Pesquisa”. O evento conta com a participação de 1.088 museus e instituições culturais e educativas de todo o país, em atividades diversas. O LUME foi criado a partir de um Termo de Cooperação firmado entre o TJPR, o Estado do Paraná, através da Secretaria de Justiça e Cidadania, e o Comitê Estadual de Memória, Verdade e Justiça (Cemvej) para ser um espaço de preservação da memória dos períodos em que ocorreram violações dos direitos humanos no Paraná e no Brasil. O LUME já integra as Rede Brasileira de Lugares de Memória e a Rede Latino-Americana e Caribenha de Lugares de Memória.

Descrição da imagem de capa: participantes do lançamento do livro no Lume: Lugar de Memória.