Desembargador Gilberto Ferreira 


DESEMBARGADOR GILBERTO FERREIRA 

Por Robson Marques Cury 

Gilberto Ferreira, filho de Silvino Ferreira Júnior e Leda Cristovam Ferreira, nasceu em 21 de julho de 1953 em Quatiguá (PR). Formou-se bacharel em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), turma de 1979. 

Ingressou na magistratura através de concurso público em 1984, quando atuou como juiz substituto na comarca de Jacarezinho. Foi titular das comarcas de São Jerônimo da Serra, Ribeirão Claro, União da Vitória, Paranaguá e Curitiba, até ser promovido a juiz substituto em 2º grau, atuando na 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR). Gilberto Ferreira tornou-se mestre em Direito das Relações Sociais, pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), e especialista em Direito Contemporâneo (IBEJ/PUC) e em Direito processual (IBEJ/Positivo). 

Escreveu os livros "Aplicação da Pena" (Editora Forense), "O Rio Nasce na Montanha e Segue Rumo ao Mar" (Editoria Juruá) e "Minhas Histórias. Crônicas, Poesias, Trovas. Discursos e Casamentos realizados em trovas" (Editora M. Medeiros). 

Gilberto Ferreira foi idealizador da criação da Creche Bruno e Eva de São Jerônimo da Serra; da Central de Penas Alternativas de Curitiba, a primeira Central do Brasil; do projeto Sersocial e do programa de rádio Justiça para Todos, da Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar) e dos jogos de futebol entre magistrados no Brasil. Também foi professor e diretor-geral da Escola da Magistratura do Paraná (Emap); presidente da Amapar; coordenador da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) na região Sul; juiz auxiliar da Corregedoria-Geral da Justiça; integrante do "Projeto Paraná Sentença em Dia" e membro efetivo do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR). 

É membro da Academia de Cultura de Curitiba (ACCUR); do Centro de Letras do Paraná; da Academia de Cultura José de Alencar de Curitiba; da União Brasileira de Trovadores em Curitiba; da Academia de Truco do Paraná (Atruco) e Cavaleiro da Boca Maldita.  Tem artigos jurídicos publicados na Revista dos Tribunais (RT); na Revista de Processo da RT; na Jurisprudência Brasileira e no Boletim Informativo da Juruá e no Paraná Judiciário.  Escreve crônicas para a revista da Amapar, na coluna "Crônicos e Crônicas". 

Gilberto Ferreira tomou posse no cargo de desembargador do TJPR no dia 3 de dezembro de 2013. Foi vice-presidente, corregedor e presidente do TRE-PR na gestão de 2018/2019. 

O “Giba”, como é carinhosamente tratado pelos seus amigos, tem admiráveis qualidades, e é muito conhecido por ser exímio contador de estórias. 

Seu senso de humor é invejável, fruto do sucesso do seu relacionamento com todos. Ele mesmo reconhece ser muito brincalhão! Digno de nota foi a avaliação feita por ele do meu livro "Cotidiano Forense", lançado em 2016 (Vitória Gráfica & Editora), em que repetia jocosamente que a melhor crônica da obra era “A perna do pato”, escrita na comarca de Cerro Azul pela minha esposa Maria Regina de Quadros Cury. De fato, elogiada pelos que se divertiram com a narrativa. 

Gilberto é também esportista nato, habilidoso com a bola, integrou todas as seleções da Amapar. Reconhece que futebol é a sua grande paixão. Apreciador do jogo de sinuca. Talvez o jogo de cartas que mais aprecie seja o truco. Com parceiros que tem total sintonia, suas duplas são praticamente imbatíveis. 

A propósito, transcrevo aqui o episódio a mim reportado pelo magistrado Leomir Binhara de Melo e inserido no capítulo da “A História do Poder Judiciário Paranaense”. 

“Leomir conta que em uma partida de truco disputada na colônia de férias de Guaratuba, em que sua dupla disputava com a dupla de Gilberto Ferreira, ganhando a maioria dos tentos, quando Gilberto pede para o filho buscar no apartamento o baralho novo, reclamando que estavam gastas as cartas que estavam jogando. Reiniciada a partida, Gilberto falava toda hora para o Leomir: ‘Jogue esse teu três que está segurando. Esse dois não ganha. Pensa que teu espada vai ganhar do meu paus?’ De fato, o Leomir tinha essas cartas e a manilha. Achou então que o baralho estava marcado, e começaram a discutir. Resolveram então voltar a jogar com o baralho antigo. E a dupla do Gilberto passou a ganhar as mãos, e brincam até hoje que, quando chegarem perante São Pedro, ele é que vai dizer se alguém estava trapaceando...” (site TJPR fevereiro 2024). 

O Giba, no entanto, contesta essa versão, ele diz que o “baralho era do Leomir e que, pela maneira como ele jogava, ficava fácil adivinhar as cartas que tinha em mãos. Como se sabe, uma das ciências do truco, é saber ler as cartas jogadas sobre a mesa. Eu fazia a leitura do jogo, sabia a carta que o Leomir tinha nas mãos e pegava o seu facão. Isso desgostou o amigo Leomir e gerou a polêmica que mantemos até hoje e que tanto nos divertimos quando lembramos dela”.  

O Gilberto Ferreira tem ao par das incontáveis sentenças e acórdãos, expressiva produção literária. Em entrevista audiovisual à jornalista Daniele Machado, em fevereiro de 2020, para a “História do Judiciário”, relembrou: “Meu pai trabalhava na Casa Rural em Quatiguá, onde nasci. Posteriormente, quando já tinha sete anos, mudaram-se para Curiúva a fim de administrar o sítio recebido de herança. Lá gostava de pescar juntamente com a minha mãe. Certo dia, ao voltar para casa, escutei o barulho do rádio adquirido pelo pai, raridade na época. E passei a ouvir estações de ondas curtas do exterior e do Rio Grande do Sul. Gostava muito de um programa de trovas que escutava todas as noites. Aí, menino, nasceu o gosto por esse tipo de poesia. 

Já magistrado na comarca de São Jerônimo da Serra, conheci o advogado Adalberto Dutra Rezende, muito culto, um dos maiores trovadores do país, com quem conversava diariamente. Ele participou de um encontro de trovadores promovido na cidade, tendo hospedado em sua casa o famoso trovador Ciro Goldman, de São Paulo. A partir daí, passou a estudar e a desenvolver a técnica para que a trova ficasse musical. E costumo declamar para minha amada esposa: ‘Quando deito do teu lado e acordo nos braços teus, viajo no céu estrelado e chego mais perto de Deus.’ 

Tenho facilidade para escrever. Meu pai me trouxe para a capital, onde tudo era novidade, muito movimento nas ruas. E o telefone, não sabia que devia esperar o tom de discar. Morei na Casa do Estudante Universitário e participava de tudo por já apreciar a atividade política, lá muito aprendi. Na faculdade, comecei a escrever ensaios críticos, inclusive poesias, e publicava na folha acadêmica. 

Aprovado em concurso para a polícia civil, fui designado para atuar na delegacia de polícia de Rebouças e, para continuar estudando na faculdade, fui autorizado pelo delegado e pelo juiz de Direito João Luís Manassés de Albuquerque a fazer o trabalho à distância. Costumo dizer que fui um dos que inaugurou o teletrabalho. 

Terminei o curso de Direito e já fui trabalhar como advogado em grande escritório. Após cinco anos, fui aprovado no concurso para a magistratura. Avisado por telefone; foi muito marcante e emocionante. Após a posse, designado para a comarca de Jacarezinho, cheguei em época de muito calor de terno e gravata, sendo recebido pelo juiz de Direito Eduardo Lino Bueno Fagundes, que me perguntou: ‘O senhor é o novo juiz substituto?’. Eu respondi: 'Como o senhor sabe?’. Situação óbvia, com minha chegada engravatado naquele calor sufocante. 

Ingressei em 1984, quando entrava em vigor a nova reforma penal. E logo constatei que era importante a aplicação das penas alternativas. Só que as comarcas não disponham de estrutura.  Então criei o Conselho da Comunidade, a qual incumbi a aplicação das penas. Deu certo, e escrevi o projeto. Em seguida, indicado pelo magistrado Adalberto Jorge Xisto Pereira, passei a compor a equipe de juízes auxiliares do presidente desembargador Oto Sponholz, quando foi por resolução criada a pioneira Central de Penas Alternativas. Após o nosso estado adotar essa Central, posteriormente a primeira lei foi criada pelo estado do Ceará." 

A jornalista Daniele lembrou a poesia citada no seu discurso de posse como desembargador em 2013: "Eu fui nascido e criado na querida Quatigá. Um pedaço sagrado do norte do Paraná. Lá o meu pai trabalhava na antiga Casa Rural. Esse serviço ele amava, mas ganhava muito mal. E por isso foi obrigado a tomar triste decisão mudar de povoado para ganhar nosso pão. Significa que sou um felizardo. A vida foi muito generosa para mim. Só tenho a agradecer. Busco retribuir dando o melhor de mim no meu trabalho.” 

Descrição da imagem de capa: Arte gráfica com estantes de livros no fundo e no centro o título com os dizeres - História do Judiciário Paranaense.