História do Judiciário Paranaense - Desembargador Hildebrando Moro


HISTÓRIA DO JUDICIÁRIO PARANAENSE - DESEMBARGADOR HILDEBRANDO MORO

Por Des. Robson Marques Cury. Em memória do Des. Hildebrando Moro.

Hildebrando Moro, filho de Edmundo Moro, dono de Olaria, e de Maria Carolina Moro, nasceu no dia 24 de maio de 1932, em Ponta Grossa (PR). Bacharel pela Faculdade de Direito de Curitiba, turma de 1961.

Iniciou suas atividades no Poder Judiciário como funcionário do Juizado de Menores em 1955, mesmo antes de cursar a Faculdade de Direito, a partir de 1957. Formado em 1961, prestou concurso para o cargo de Juiz Substituto. Em 6 de julho de 1962 iniciou a carreira na magistratura, sendo nomeado juiz substituto da comarca de Apucarana. Exerceu a mesma função nas comarcas de Jandaia do Sul, Marilândia do Sul, Mandaguari, Campo Largo, Cerro Azul, Curitiba, Araucária, São José dos Pinhais, Guarapuava, Ponta Grossa, Pitanga, Laranjeiras do Sul, Prudentópolis, Pato Branco e Ivaiporã. Promovido a juiz de direito após concurso, a partir de 6 de junho de 1964 atuou nas comarcas de Joaquim Távora, Tibagi, Reserva, Foz do Iguaçu, Rolândia, Cambé, Jaguapitã, Cianorte, Telêmaco Borba e Curitiba.

Na Comarca da Capital Paranaense, atendeu as 4.ª, 5.ª, 6.ª e 7.ª Varas Criminais como Juiz de Direito Substituto, sendo removido para Juiz Titular da 7.ª Vara Criminal. Atuou, também, como Titular da 14.ª Vara Cível e, após, da 5.ª Vara Cível, sendo finalmente removido para a 1.ª Vara Cível e Diretoria do Fórum de Curitiba.

Em 14 de julho de 1986 foi nomeado juiz do Tribunal de Alçada.

Foi integrado no Tribunal de Justiça do Paraná, no cargo de desembargador, através da Resolução 2/2005.

Membro do Tribunal Regional Eleitoral no período de 1980/82 e lecionou Direito Comercial e Processual Civil na Faculdade de Direito de Curitiba.

Faleceu no dia 20 de maio de 1990. 

É patrono do Fórum de Pérola e do Fórum Eleitoral de Barbosa Ferraz.

Foi casado com Elinor Florência Alice Moro, neta de Romário Martins, historiador, autor do clássico “História do Paraná” e considerado fundador do “Movimento Paranista”, obra responsável por criar uma valorização ao Estado.

Elinor herdou os dotes de escritor do avô, como mostram as crônicas que escreveu no final dos anos sessenta sobre a sua vida com o marido magistrado Hildebrando Moro na comarca de Tibagi.

“SEMPRE TIBAGI

Manhã de abril. Manhã nada. Quatro horas. Madrugada. Outono. Vento fino e frio.

Penitente pronta. Vai pagar promessa.

Marido Juiz, pronto. Amiga Tereza, idem. Coletor Estadual e sua Ivone, também. Por que o bando? Quem vai pagar promessa? Só ela. Aqui, amigos, são Amigos. Vão junto. Promessa difícil. Trinta quilômetros. A pé. Estrada da Ventania. Cascalho puro. Até a Fazenda Fortaleza.

Sempre Bom Jesus. Do tempo das sesmarias. Tamanho natural. Milagroso. Milagreiro.

Nossa, que capa feia, meu Deus!

Cetinzinho mais churrepa! Não lhe cai bem. Vou bordar outra. Veludo. Fio dourado e pedrarias. Sutaches e roltês. Pingentes e miçangas.

Condizente com a sua condição.

Está pronta. É só levar. A pé.

O marido Juiz, o Coletor, a capa de veludo vão no Fuque.

No Fuque, o virado de frango a paçoca, o café quente. As Laranjas-rosa. É chupar cuspir caroço. Mais caroço que caldo. Distrai e mata a sede.

Começa a andança. Todos se benzem. Rezam um pouco. É noite ainda.

O luar, tão lindo clareia o caminho. Passo a passo, vão as três, conversam. Riem de tudo e de nada. O Fuque acompanha. Devagarinho. Santa paciência.

Começa a clarear. Hora da primeira parada. Sentam, todos, num moitão. Tomam café quente. Olham o céu. Não dá para acreditar. É beleza sem tamanho. Tudo rajado. Branco. Azul. Rosa.

Ainda um pouco de cinza. Que logo acaba.

Sempre acaba.

É um novo amanhecer.

Todos quietos. O espetáculo é de respeito.

Já é dia. Recomeçam a caminhada.

Passo a passo. Apreciando a paisagem. Mais linda, ninguém viu. Campo, a perder de vista. Ponta de gado. Alguma plantação. Casa de sapê. O caboclo, na porta pensa. ‘Que são isso?’

Passo a passo. O pinhal. As moitas. Os caminhos da terra batida. As cercas. O cheiro da terra orvalhada e do capim-limão.

Passo a passo. Rindo. Conversando. Olhando tudo. Gravando a beleza. Durante nove horas.

Fazenda Fortaleza. Sede de taipa. Muros largos. Capelinha ao lado. Conseguimos.

Lágrimas e risos. Emoção e canseira.

Está aqui sua capa, meu Senhor Bom Jesus.

Os donos da Fazenda acodem. Hospedam. Ninguém se assusta. Coisa mais comum. Corriqueira. O povo sempre foi a pé. Tradição.

Descansam um pouco. Voltam todos. Felizes e apertados no Fuque.

Dia seguinte. Corpo moído. Pés inchados. Tudo bem. Cedo, cada um na sua função. Fórum. Coletoria. Ginásio. Prefeitura. Vão se encontrar para o almoço.

Iscas de surubi. Fritas na farinha de mandioca.

Coisa mais supimpa!

Todos falam junto. Recordando. Prosa alta. Risadaria. Grande animação.

Na mesa, um convidado. Nhô Sezefredo. Jardineiro e filósofo. Grande amigo. Tudo ouve. Muita atenção. Não ri. Promessa é coisa séria.

Um, porém, não entendeu. Nhá Tereza por que foi junto?

Estou cansada desta vida de solteira. Fui pedir marido. Volta-lhe o filósofo:

- Nhá Tereza, Nhá Tereza, se há de ser um casamento, por maldade, será bem melhor morrer numa boa de uma virgindade.
Nhô Sezefredo. Caso à parte. Se lhe perguntam quem é. Prontamente responde. A formiga da lata de açúcar da casa do juiz.
Grande intimidade. Maior não há.

Doutor, eu gostaria, quando eu morrer, que o senhor carregasse o meu caixão. Um homão, do seu tamanho, só tem que ser bom de alça. Quando eu morrer, Doutor, além de ficar de vis a vis, vou ficar de frente à frente com Deus.

Não deu outra. Nos dois casos.

Velório respeitoso. Como todos deveriam ser. Prosa baixa. Algum choro. Todos de domingueira. Tristes.

Na cozinha, quitandas da Marina. Coisa fina! Cozinheira dos padres. No fogão à lenha, café forte. Prá espantar o sono. Nem carecia. Prosa boa, noite curta.

Vez por outra, na sala, chega um neto. Pega o instrumento próprio cortante. Apara o supérfluo do astro luminoso.
Com uma tesoura, corta o pavio das velas.

- Inté amigo velho. Inté!”
 (Com Justiça e Com Afeto, Comunicare Gráfica & Editora, 1994)

Conheci o magistrado Hildebrando Moro no Tribunal de Alçada quando lá atuei como Juiz de Direito convocado. Culto e erudito. Circunspecto. Educado. Alto e elegante.

As filhas Maria Carolina e Eleonora, assessoras jurídicas do Tribunal de Justiça e do Ministério Público, respectivamente, continuam a tradição dos escritores da família.

Por Desembargador Robson Marques Cury.

Desembargador Hildebrando Moro.