História do Judiciário Paranaense - Desembargador Jeorling Joely Cordeiro Cleve


HISTÓRIA DO JUDICIÁRIO PARANAENSE - DESEMBARGADOR JEORLING JOELY CORDEIRO CLEVE

Por Des. Robson Marques Cury

Guarapuavano, nascido em 1932. Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Paraná, turma de 1957. Exerceu a advocacia de 1957 a 1966 com escritório na comarca de Pitanga, onde foi um dos fundadores do Colégio Estadual de Pitanga. Lá foi promotor público interino. Ingressou, após concurso, em 1966 na magistratura, como Juiz Substituto na seção judiciária de Foz do Iguaçu. Após novo concurso, assumiu em 1967, como juiz de direito, a comarca de Piraí do Sul. Em 1969 foi promovido para Ivaiporã, depois removido para Guarapuava. Promovido para Curitiba em 1978, atuou nas 11ª. e 3ª. Varas Cíveis. Em 1990 foi promovido para o Tribunal de Alçada, e em 1999 assumiu o cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná. Aposentou-se em 2002.

A sua esposa, a professora Dirce Merlin Cléve, normalista em 1953 no ano do centenário da emancipação política do Paraná e Bacharel em Letras Neolatinas – Português pela PUC-PR, turma de 1957, ano em que contraiu matrimônio com o então advogado Jeorling. Desportista na juventude, competindo em corrida de revezamento e basquete. Tornou-se escritora, publicando em 2014 o livro “Família Merlin – memória é pura imaginação.”

Em depoimento, explica essa homenagem à sua família de origem:

“A narrativa tenta reproduzir a saga de meus bisavós, oriundos da região de Vêneto, Itália. Vieram ao encontro de oportunidades para seus filhos, trabalho digno, progresso. Encontrei e reencontrei familiares para ouvir histórias, algumas dramáticas, sobre a trajetória dos pioneiros. Alguns fatos tão distantes, alguns tão repetidos que até parecem recentes, outros, apenas uma vaga lembrança. Fui incansável na procura da exatidão e em abrigar todos os descendentes desta enorme família. Eram muitos para o tempo proposto, então optei por apresentar a pesquisa em linha direta de ascendência: bisavós, avós, pais, filhos e meus netos.

Aproximadamente trezentas e cinquenta mil pessoas, só daquela região do Vêneto, enfrentaram uma longa travessia para aqui se instalar durante aquele século. Falavam o ‘talian’, atualmente um dileto arcaico. Aquelas famílias contribuíram para, além do desenvolvimento do Estado, a formação do homem paranaense. No século XIX, emigrar era um sonho! De liberdade, de bonança e fartura, de trabalho e compensações. Estavam todos determinados a proporcionar aos filhos uma vida honrada. Os pioneiros sofreram muitas agruras, algumas imaginadas, outras descritas. Superaram a travessia, a língua, o clima, a alimentação, o desconforto dos insetos, dos animais, a saudade e as ausências, com garra e vontade. Tudo era muito diferente, seus hábitos, comida, clima, a moradia.

Meus bisavós Giuditta e Giuseppe Merlin e os sete filhos aportaram em Paranaguá no dia 13 de janeiro de 1878. Não eram tão jovens, ele 47 anos e ela 44. Nascidos em Villa Bartholomea, Verona, partiram em carroções até o porto de Gênova acompanhados de outras famílias, todas numerosas. Após 55 dias de viagem chegaram a Paranaguá, via porto de Santos. Foram instalados no litoral paranaense, Morretes. Era verão, o calor, a umidade, os insetos afastaram-nos dali e juntos subiram a serra. Com o dinheiro trazido, fruto da venda de seus bens na terra natal, adquiriram lotes na região do Água verde e fundaram a Colônia Dantas, nome em homenagem ao presidente da Província, comendador Manoel Pinto de Souza Dantas. Em Curitiba nasceram os dois filhos mais novos do casal.

Meu avô, Domenico, nasceu em 1863 e morreu em 1937, chegou com 15 anos, quase um menino, era o segundo na escala familiar e partilhava da expectativa dos pais, do sonho da Terra Prometida, como alardeava a propaganda nos folhetos distribuídos em grande escala. As músicas, as cantorias que embalaram a sofrida viagem, mostram o entusiasmo da jornada.

                        ‘América, América

                         Lá se vive que é uma maravilha.

                         Vamos ao Brasil

                         Com toda a família

                         América, América

                         Se ouve cantar

                         Vamos ao Brasil, Brasil povoar’.

Domenico ou Domingos Merlin, como passou a se chamar, casou-se com Liberata Thomas e tiveram nove filhos. O mais novo, meu pai, Cláudio Merlin, casou-se com Mercedes Pschera, filha de imigrantes alemães. Sou a segunda de uma irmandade de nove filhos.

Sobre esta família, Pschera, planejo escrever a respeito de seus membros e de sua saga. Eram também imigrantes da Alemanha e chegaram ao Brasil igualmente cheios de sonhos, aspirações de progresso e bonança para seus descendentes.”  (Toga e Literatura, Revista Cultural da Amapar, agosto, 2016)

O Desembargador Jeorling Cleve, membro do Centro de Letras do Paraná e da Academia de Artes, Ciências e Letras de Guarapuava, escreveu as obras: “ Cel. Luiz Daniel Cléve – Memória Histórica”, sobre a vida de seu bisavô paterno, imigrante dinamarquês, quando da comemoração dos 150 anos da sua chegada ao porto de Paranaguá. “Povoamento de Guarapuava – Cronologia Histórica”, em que se refere à conquista e a saga do povoamento do terceiro planalto paranaense. “Pensamentos de todos os tempos – Lições de Sabedoria”, em três volumes. “Antologia – Pensamentos, Frases e Textos Famosos”. “Antônio de Sá Camargo, Visconde de Guarapuava”, e,  “Memórias de Pitanga”,

Prestou depoimento em 2016 para Memórias do Paraná.

Considero-me privilegiado em ter com ele trabalhado no Tribunal de Alçada, aprendendo fartas lições de sabedoria e da arte de julgar.                        

Os filhos de Jeorling e Dirce são Clémerson, Christiane, Luiz Roberto e Luciane. Clèmerson Merlin Clève, nascido em Pitanga, Advogado, Procurador da República, Professor, escritor de obras jurídicas de direito Público. Christiane formou-se em Odontologia. Luiz Roberto Merlin Cleve ocupa o cargo de Procurador de Justiça no Ministério Público do Paraná. Luciane Merlin Clève Kravetz ocupa o cargo de Juiza Federal no Paraná.
 

Por Desembargador Robson Marques Cury.

 

 

Des. Jeorling Joely Cordeiro Cleve