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JURISTAS DO CLÃ KANAYAMA
Por Robson Marques Cury
O patriarca da família Kanayama foi o desbravador Kiyossi Kanayama, cuja história de vida constitui um paradigma para as gerações de descendentes do povo japonês.
A história da sua biografia está resumida no site “Kanayama Advocacia”, a qual transcrevo:
“Naquele domingo de 1942, o jovem de traços orientais desceu na Estação Ferroviária de Curitiba com uma pequena mala na mão. Preferiu ir direto para casa, ler um pouco, preparar-se para a segunda-feira, a mais importante da sua vida.
No dia seguinte, Kiyossi Kanayama começaria a trabalhar como advogado. Tinha nascido em Santos, 26 anos antes, filho de imigrantes japoneses.
A crise econômica mundial de 1929 fez a família mudar para Paranaguá, onde seu pai estabeleceu-se com um armazém de secos e molhados.
O jovem Kiyossi tinha a noção exata das possibilidades que a atividade familiar lhe reservava. Poucas, para seus objetivos de crescimento intelectual e profissional.
Imaginou que poderia ajudar mais a família se fizesse o Madureza, curso que permitia a conclusão em período reduzido do então científico. E sozinho estudou para o vestibular na Faculdade de Direito da Universidade do Paraná.
A rotina de descer a serra era obrigatória: deixava as poucas atrações que Curitiba oferecia para ver os pais, mostrar sua determinação nos estudos, ajudar no armazém.
Curitiba tinha pouco mais de 140 mil habitantes, que aos domingos se divertiam com um jogo de futebol – o Coritiba tinha sido campeão no ano anterior e iria repetir a dose na temporada, o que pouco importava ao jovem acadêmico: ele era torcedor do Água Verde.
Os curitibanos também movimentavam o prado do Guabirotuba, com suas arquibancadas bem frequentadas, depois de almoçar em alguma churrascaria como a do Parque Cruzeiro, no Batel. Quem era abonado tinha ainda a possibilidade de arriscar, mais tarde, alguns mil réis nas mesas do Cassino Ahú.
Para um jovem disciplinado como Kiyossi era mais útil aplicar suas poucas economias em um livro, sua paixão. Naquela hora ele soube que, em alguns dias, o professor de Direito Administrativo da Faculdade, Manoel de Oliveira Franco Sobrinho, apresentaria à apreciação acadêmica a obra Desapropriação por Utilidade Pública, que lhe poderia ser de valia.
Naquele tempo em que a guerra consumia a Europa e já impunha seus efeitos no Brasil, ele iria ter muito trabalho, cuidando de preservar os interesses das famílias de imigrantes japoneses e alemães, ameaçados de perder os bens pela truculência da ditadura Vargas.
Nos anos seguintes, perdeu a conta dos habeas corpus que impetrou em favor dos perseguidos, advogando em Curitiba, no interior do Paraná, Mato Grosso e sul de São Paulo. Os recursos eram atendidos, no Rio de Janeiro, pelo então advogado Evandro Lins e Silva, encarregado de acompanhar a tramitação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). A fama de Kiyossi como advogado dedicado se estendeu. Em pouco tempo, abriu um escritório com Accioly Filho e Oswaldo Wanderley da Costa. Estavam bem localizados, na Rua XV, entre a Rua Barão do Rio Branco e a Presidente Faria.
Dali, Kiyossi só sairia para o escritório individual, em sala própria, no Edifício Lustosa, inaugurado em 1954, ao lado do endereço anterior. O prédio era inovador: trazia uma galeria de lojas ligando a Rua XV a Marechal Deodoro; e duas torres, uma comercial e outra residencial.
A cidade crescia, e o advogado precisava aumentar a renda da família. Já em 1946, havia casado com Fani Nielsen Kanayama, uma bela filha de pai descendente de dinamarquês e alemã, e mãe descendente de italianos.
Assim é que, ainda nos anos 40, prestou concurso para inspetor de ensino, função da qual pediu exoneração tempos depois, e se candidatou a deputado estadual, em 1952, obtendo uma suplência.
Enquanto seus filhos nasciam – Renato, Rosani, Regina e Rogério – passou a advogar para o Serviço de Proteção aos Índios, mais tarde Fundação Nacional do Índio. Ele se tornou referência, a ponto de ser um dos redatores do Estatuto do Índio, nos anos 70. Foi ainda professor de Direito Comercial na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), deixando o cargo em 1969.
Exerceu plenamente a advocacia porque amava o Direito: o sonho de ver todos os netos dedicados à ciência das leis foi satisfeito pela maioria. Dos dez que somou, sete lhe fizeram a vontade.
Este brasileiro voltado ao enriquecimento intelectual teve na literatura uma amiga de todas as horas. Foi leitor de primeira edição de Graciliano Ramos, Lígia Fagundes Telles, Oswald de Andrade, Érico Veríssimo, Mário Quintana. Também era leitor assíduo de Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida, Vianna Moog. Sentia-se em casa ao viajar pela imaginação dos autores preferidos. Admirava o que lia na mesma proporção em que não se afastava dos princípios que defendia.
Kiyossi Kanayama faleceu em 25 de junho de 2005, deixando um legado de rigor ético, competência e amor à profissão, presentes nos herdeiros de sua carreira profissional.”
Seus descendentes têm se destacado na área jurídica, como era da vontade do pioneiro Kiyossi. É o lema do seu escritório de advocacia: “Ética e qualidade”.
O caçula, Rogério, ingressou na magistratura atingindo o último degrau da carreira. Tornamo-nos amigos quando atuamos no Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR). Ele já havia deixado, como exímio jogador de futebol que era, de participar dos campeonatos dos juízes. O incentivei às aulas de tênis, e ele tomou gosto. Porém, as contusões também o afastaram dessa prazerosa atividade esportiva. Restaram-lhe as alegrias da leitura e do estudo. Seu currículo espelha a profícua carreira que segue. Agora um dos decanos do TJPR.
Rogério Luís Nielsen Kanayama, filho de Kiyossi Kanayama e Fani Nielsen Kanayama, nasceu no dia 11 de fevereiro de 1954, em Curitiba (PR). Formou-se bacharel em Direito pela UFPR, turma de 1976.
Aprovado em concurso público para juiz substituto, foi nomeado em 9 de dezembro de 1980 para exercer as funções na comarca de Loanda. Em 23 de março de 1982 foi promovido ao cargo de juiz de Direito, judiciou nas comarcas de Cândido Abreu, Paraíso do Norte, Capanema, Francisco Beltrão, Maringá e Curitiba.
Em 8 de fevereiro de 2000, Rogério foi nomeado juiz do Tribunal de Alçada e, no dia 31 de dezembro de 2004, foi promovido ao cargo de desembargador do TJPR.
O magistrado, assumiu a presidência do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para o ano de 2012. Além de diretor e coordenador, foi orientador do Estágio Criminal da Escola da Magistratura do Paraná (Emap).
Exerceu o cargo de Corregedor Geral da Justiça no biênio 2017/18.
Seu filho, o também magistrado Rafael Luís Brasileiro Kanayama, neto de Kiyossi, dedica-se laboriosamente ao seu mister, tendo exercido a função do juiz auxiliar da presidência do Tribunal de Justiça no biênio 2021/22.
Renato, o primogênito de Kiyossi, seguiu-lhe os passos na advocacia, construindo carreira de retumbante sucesso, pautada na seriedade, ética e respeito. Ocupou postos chave na Ordem dos Advogados do Brasil seção Paraná (OAB-PR). Tem sido, durante anos a fio, uma voz atuante na defesa dos direitos de seus constituintes, nos recursos perante o Tribunal de Justiça, precipuamente perante o Órgão Especial, onde muito aprendi com o seu profundo conhecimento do Direito.
Seus sucessores, o filho Rodrigo Luís Kanayama, atuante nas comissões da OAB-PR, estudioso incansável, é doutor em Direito do Estado e um professor renomado. E o filho Ricardo Alberto Kanayama, também advogado, integra a equipe do escritório fundado pelo avô Kiyossi.
Também é advogada a neta de Kiyossi, filha mais nova do desembargador Rogério, a Carolina Kanayama Salloum, que advoga em sociedade com Viviane Vaz Vieira Kanayama, casada com o juiz de Direito Rafael Luís Brasileiro Kanayama.
A título de curiosidade, cabe o registro de que Kiyossi Kanayama deixou uma biblioteca com mais de 40 mil volumes, a maior parte composta de obras jurídicas, mas com grande quantidade também de literatura nacional e estrangeira, artes, antropologia, sociologia, filosofia, dicionários e obras de outras áreas.
Descrição da imagem de capa: Arte gráfica com estantes de livros no fundo e no centro o título com os dizeres - História do Judiciário Paranaense.