História do Judiciário Paranaense - Desembargador Eros Nascimento Gradowski


HISTÓRIA DO JUDICIÁRIO PARANAENSE - DESEMBARGADOR EROS NASCIMENTO GRADOWSKI

Por Des. Robson Marques Cury. Em memória do Des. Eros Nascimento Gradowski

Flho do Desembargador Segismundo Gradowski e de Mercedes Myrthes do Nascimento Gradowski, Eros Nascimento Gradowski nasceu no dia 19 de julho de 1926, na cidade de Curitiba (PR). Casou-se com a Senhora Nordélia Castello Branco Gradowski.

Bacharel pela Faculdade de Direito da Universidade do Brasil (RJ), turma de 1950. Foi eleito representante de sua faculdade junto à União Nacional dos Estudantes. Ingressou na carreira do Ministério Público no ano de 1952, após exercer interinamente o cargo de promotor público na comarca de Rio Negro. Em 1952, em concurso público, foi nomeado para o cargo de promotor público da comarca de Sengés. Em 1953, foi designado para o mesmo cargo em Londrina e, meses mais tarde, para a comarca de Wenceslau Braz e, depois, para Foz do Iguaçu.  

Foi o primeiro titular da 3ª Promotoria Pública de Londrina. Em 1961, exerceu o cargo de diretor da Penitenciária Central do Estado. Professor de inglês, foi nomeado diretor do Colégio Estadual do Paraná de 1962 a 1966. Foi membro da comissão do anteprojeto do Estatuto do Ministério Público do Estado do Paraná. Integrou, durante quatro anos, o Conselho Estadual de Educação, onde foi presidente da Câmara de Ensino Médio e da Comissão de Legislação e Normas.

Lecionou Direito Penal, Direito Constitucional e Direito Internacional Público na Faculdade de Direito de Curitiba, onde foi membro do Conselho Departamental. Na Universidade Católica do Paraná, foi professor titular de Direito Penal e chegou a exercer as funções de diretor do Curso de Direito desta instituição. Desde sua fundação, foi diretor executivo da Revista M.P., meio de divulgação do Ministério Público do Estado. Exerceu as funções de corregedor geral do Ministério Público no biênio 1978/79.

Em 16 de março de 1979 foi nomeado Procurador Geral da Justiça, cargo que ocupou até 25 de junho de 1979, quando foi nomeado desembargador, por meio do quinto constitucional destinado a membros do Ministério Público. No Tribunal de Justiça do Paraná, exerceu o cargo de Vice-Presidente, no biênio 1993/94. 

Faleceu no dia 13 de maio de 1994.

É patrono do Fórum de Matinhos e do Fórum Eleitoral de Foz do Iguaçu.

Foi meu professor de Direito Penal na Faculdade de Direito de Curitiba. Curso noturno, pois trabalhava de manhã e de tarde para custear os estudos. Excelente ao ensinar e exigente nas provas. O exame oral exigia muito do aluno. Indagava sem nenhuma pressa. Eu que estudei muito fui sabatinado cerca de meia hora. Isso porque gastei tudo que aprendi dos Comentários ao Código Penal de Nelson Hungria. Outros foram examinados por mais de uma hora. A prova oral demorou dias para terminar. Alunos dessa turma: os desembargadores Valter Ressel, Clayton Coutinho de Camargo, Guido Dobeli, entre outros. 

Exerci de 1979 a 1981 o cargo de juiz de direito de entrância inicial na centenária comarca de Cerro Azul, trabalhando no prédio do fórum do tempo do império com paredes grossas de meio metro de espessura, antigamente utilizado como quartel, divisando o terreno nos fundos com o rio ponta grossa. O imóvel havia sido totalmente restaurado e mobiliado por iniciativa do magistrado anterior Rui Portugal Bacellar de tradicional família de juristas. Conheci nessa época seu filho adolescente Rui Portugal Bacellar Filho, depois juiz de direito e hoje desembargador.

Um idoso juiz de paz local o Senhor Artur Bichels contou-me muitas estórias antigas inclusive do filho do juiz Gradowski que nos idos de 1928 quase morreu de difteria. O fato foi narrado por Mercedes Myrthes Nascimento Gradowski esposa do também centenário Desembargador Segismundo Gradowski, na crônica intitulada ‘HISTÓRIAS QUE FAZEM NOSSA HISTÓRIA’:
“Em 1928, a cidade de Cerro Azul caracterizava o que se poderia chamar de ‘o fim do mundo’.

Embora distante apenas 83 km de Curitiba parecia estar a ‘anos luz’ da capital do Paraná, tal a precariedade dos meios de transporte e as dificuldades de comunicação e contato entre seus habitantes e os da ‘metrópole’.

O lugar se resumia a um pequeno amontoado de casas simples, dois armazéns de secos e molhados que, entre os secos, incluía fazendas, armarinhos, panelas, alpargatas, botas e instrumentos agrícolas e, molhados, querosene, creolina e uma boa pinga. No grupo escolar, duas abnegadas professoras teimavam contra a adversidade, na luta por introduzir seus alunos no mundo das letras e das ciências. Um pequeno, modesto, mas asseado hotel, onde morávamos e, naturalmente, a igreja.

Farmácia não havia; médico, nem pensar. Qual o doido que, canudo na mão, iria se aventurar a trocar saúde por galinhas e porcos? Os achaques corriqueiros ficavam por conta das ‘benzedeiras’, dos ‘entendidos’, geralmente pessoas avançadas nos anos, com larga experiência no emprego de cataplasmas, lavagens, costuras e ventosas; para corte fio, inflamação ou mordida de bicho, pó de café ou teia de aranha; isto sem se dispensar o indefectível ‘sal amargo’, socorro supremo para todos os males.

Nascimentos? Eram a especialidade de Dona Maria que, com a ajuda de Nossa Senhora do Bom Parto trouxera ao mundo mais da metade da minguada população.

A ligação com o ‘exterior’ era feita pelas ‘diligências’, jardineiras em precário estado de conservação que, uma vez por semana, enfrentavam a estrada estreita, esburacada e cheia de pó, trazendo e levando passageiros, encomendas e todo tipo de carga, além de serem responsáveis pelo transporte da correspondência. As diligências eram o elo entre Cerro Azul e o resto do mundo.

Durante o outono e o inverno, quando as chuvas cobriam de lama a estrada, transformando seus buracos em trincheiras perigosas, chegávamos a ficar trinta dias com os olhos pregados no horizonte, na esperança de ouvir o ronco barulhento de um motor ou vislumbrar vestígios de sua fumaça preta que nos devolvesse a certeza de que ainda fazíamos parte do universo que existia além dos limites da cidade.

Agosto era o mês de dias muito curtos e noites muito longas. A chuva, o frio e a neblina envolviam a tudo e todos, trazendo uma atmosfera cinzenta que acabrunhava e entristecia.

O barulho da chuva no telhado de nosso quarto de hotel e o clarão dos relâmpagos iluminando a janela prolongaram minha insônia costumeira.

Para me distrair, comecei a traçar planos para minha próxima visita a Curitiba.

Em determinado momento, estranhei o ritmo da respiração de meu filho de dois anos, que dormia na cama ao lado da nossa.
Levantei-me sem fazer barulho; não queria perturbar o sono tranquilo de Segis.

Alcancei o menino; coloquei a mão em sua testa – ardia em febre. Seu corpo estremecia sacudido por violentos tremores. A respiração era pesada e entrecortada e um som rouco saía de seus lábios entreabertos.

O pânico tomou conta de nós, cientes da falta de recursos locais e da impossibilidade de fuga. Há mais de dez dias não aparecia um único visitante motorizado.

A manhã nos encontrou insones e extenuados, velando nosso filho que piorava a cada momento. Os hóspedes do hotel e suas dedicadas proprietárias participavam de nossa aflição.

- ‘Dr. Juiz, vem vindo alguém!’

Um anjo, disfarçado em chofer de caminhão fora mandado em nosso socorro.

- ‘Vão com Deus!’, ouvi meu marido dizer com a voz embargada.

Foram doze horas de desespero; estrada lamacenta e escorregadia parecia não ter fim. Eu apertava meu filho em meus braços, tentando transmitir-lhe com este abraço um pouco da minha própria vida.

Finalmente direto para a casa do Dr. Cerqueira, médico indicado para o caso e conhecido de nossas famílias.        

- ‘A Sra. só traz este menino agora, para ele morrer em minhas mãos?’ O cansaço, o desespero e o pranto não me permitiram defesa.

Bendito e abnegado Dr. Cerqueira - vinte e quatro horas à cabeceira de meu filho – a nós, mãe, avós e tios, só nos restava fazer uma corrente de orações, pedindo a Deus que não nos separasse de nosso pequeno.

O repicar dos sinos da Igreja do Bom Jesus anunciaram o raiar do domingo e a nossa vitória.

A difteria fora vencida.

Meu filho Eros estava salvo.” 

(Relato de Mercedes, esposa do Desembargador Segismundo Gradowski, feito à sua nora Nordélia Castelo Branco Gradowski. Com Justiça e com Afeto, 1994, Comunicare Gráfica & Editora).

Os pais, os filhos, a carreira, a cidade. Tudo interligado pela roda do destino. Assim é a vida! O que é para ser, vai ser! Como dizem os árabes ‘Maktub’, ou seja, já estava escrito ou tem que acontecer.

Por Desembargador Robson Marques Cury. 

Des. Eros Nascimento Gradowski