História do Judiciário Paranaense - Desembargador José Wanderley Resende


HISTÓRIA DO JUDICIÁRIO PARANAENSE - DESEMBARGADOR JOSÉ WANDERLEY RESENDE

Por Des. Robson Marques Cury. Em memória do Des. José Wanderley Resende

José Wanderley Resende, filho de Agenor Lopes de Resende e Lúcia Miranda de Resende, nasceu no dia 18 de setembro 
de 1938, na cidade de Jacarezinho (PR). Casou-se com Cirênia Freitas de Resende. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito de Curitiba em 1963. 

Ingressou na magistratura em 4 de março de 1965, ocupando o cargo de juiz de direito substituto da 10ª Seção Judiciária, com sede em Guarapuava. Em 6 de abril de 1966, foi nomeado juiz de direito da comarca de Laranjeiras do Sul, Arapongas e Curitiba.

Em 25 de junho de 1990 foi nomeado juiz do Tribunal de Alçada e, no dia 22 de março de 1996 foi nomeado para o cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná, onde foi eleito para ocupar a 2ª vice-presidência no biênio 2007/08. Foi membro efetivo do Tribunal Regional Eleitoral pelo período de dois anos. Lecionou Direito Penal e Legislação Complementar na Escola da Magistratura do Paraná por sete anos. Ocupante da cadeira nº 32 da Academia Paranaense de Letras, como escritor, publicou livros de poesia e diversos artigos técnicos.

Aposentou-se compulsoriamente, no dia 18 de setembro de 2008.

Faleceu no dia 21 de março de 2016, em Curitiba.

Nasceu na Fazenda Santa Helena, em Jacarezinho. Desde cedo manifestou amor à literatura. Começou escrevendo poemas, passou às crônicas e artigos para jornais. Escreveu cinco livros de poesia, participou de antologias e foi premiado em concurso de crônicas. Membro da Academia Paranaense de Letras, União Brasileira de Escritores, Centro de Letras do Paraná, Academia de Letras José de Alencar, Academia de Poesia Raul de Leoni, Sala do Poeta, Academia de Cultura do Paraná e Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

Em 2005 autografou no hall da Biblioteca Pública do Paraná, o seu livro Caleidoscópio, reunindo poemas contidos em quatro trabalhos publicados: Folhas Caídas, Caminhos, Grito Mudo e Alma Nua.

O seu estilo muito próprio e simplicidade poética expressa temas como amor, família, religião e justiça, transmitindo muito de sua sensibilidade, sentimentos, reflexões e alegria de viver.

De trato cordial e afável, minha afinidade com o Desembargador Wanderley Resende, decorre do nosso gosto comum pela literatura. Admirador confesso da sua obra, bem como do seu trabalho jurídico, já que labutamos na 3ª. câmara criminal do Tribunal de Alçada sob a sua presidência. Tive a ventura de sufragar seu nome na vitoriosa eleição para a 2ª. vice -presidência do Tribunal de Justiça, onde realizou profícua gestão.

Rui Cavallin Pinto, acadêmico da Academia paranaense de Letras, discorreu sobre o seu confrade magistrado poeta: A VIA ILUMINATA DE WANDERLEY RESENDE. 

Conheci José Wanderley Rezende no convívio da vida forense. Ele juiz de Arapongas eu agente do Ministério Público. Mas não fomos simples colegas de ofício. Fomos bons amigos de guardar intimidade e compartilharmos juntos de jantares e eventos sociais. Anos depois, voltamos a nos encontrar, nas mesmas funções e com a mesma relação de trabalho, mas já na Vara de Execução Penal e Corregedoria dos Presídios da capital, ocasião em que renovamos nosso bom convívio, dividindo os problemas jurídicos e compartilhando dos dramas humanos da vida penitenciária.

Em 1995 me presenteou com seu “Caminhos”, uma brochura reunindo 86 poemas. Mas agora já era desembargador e havia publicado “Folhas Caídas”. Na ocasião eu o saudei na imprensa, homenageando seus flagrantes do cotidiano, convertidos em mimo-rimas, colhidos do diário da vida, em que o poeta se detinha então diante da noiva no altar ou fazia despertar a emoção de ouvir um velho carrilhão batendo horas de saudade e dolência. Noutras estampas o poeta comemorava o desdobrar da noite que se avizinhava ou o anúncio da primavera no chilreio da passarada. Tem até o poeta que vai às compras no shopping ou a imagem do hospital com suas dores e as ruas com seus bulícios. Havia, também, um particular devotamento às canções de amor, tecidas de ternura e devoção, dedicadas à esposa Cirênia, sua musa inspiradora e companheira de toda a vida.

Argus Cirino, da Academia Mato-Grossense de Letras viu nele o arauto da paz, com o dom de transformar em emoção e alegria todas as contrariedades da vida. Além de “Caminhos” e outras criações poéticas, Wanderley fez prosa também, que incluiu “No Mundo da Ideias: Pensamentos” e “Retalhos da Vida”, mas, acima de tudo, foi poeta.

Eu perguntava então se o exercício da judicatura não impedia o uso simultâneo da toga e da lira. Será que o bronze da lei e o rigor do juízo jurídico não espantavam os fluidos de sua inspiração poética?

Soube depois, porém, que havia então associações de juízes e editoras dedicadas ao exercício, à edição e divulgação dos versos dos juízes-poetas. E havia, como há, muitos deles…

Assim, a exemplo, Raimundo Correia, o mais consagrado dos nossos parnasianos, que, no seu tempo, se ressentia, da condição de poeta. Nutria certo pudor epistemológico de que a notícia de sua inspiração pudesse comprometer sua autoridade de juiz ou a respeitabilidade de suas decisões. Então, se alguém o saudava como poeta, logo reagia meio ríspido: “Raimundo Correa, juiz da 3.ª Vara Criminal! Isso sim!” Certa feita, no início da carreira, quando promotor de São João da Barra, Raimundo chegou a negar suas próprias rimas, quando um político local indagou dele, se mostrando ansioso e incrédulo, se era verdadeira a notícia que corria no meio do povo da cidade de que ele era poeta.

Hoje, porém há razão para supor que juízes e poetas podem conviver no mesmo terreal. Adelmar Tavares, então desembargador-presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da cadeira n.° 11 da Academia Brasileira de Letras dizia, “se a poesia é a linguagem de falar com o céu, distribuir justiça é se aproximar de Deus. O juiz e o poeta estão irmanados na divina missão de prover o destino da humanidade.” E falava de si com igual paixão: “Jamais reneguei minha arte por envergar uma beca. Jamais deixei de entoar uma estrofe com a mesma voz com que reclamo justiça.”

Ora, a linguagem da justiça é sóbria e concisa, e isso explica o seu estilo lapidar e contido. É uma língua áspera, diz Radbruch, que renuncia toda expressão sentimental. Por sua vez, para o jurista uruguaio Eduardo Couture o processo judicial representa uma carga de sacrifício que nenhuma sentença pode aliviar, pois “o juiz é um homem que se move dentro do Direito, como o prisioneiro dentro do seu cárcere”.

É daí é que surgiu, então, a “ponte de ouro”, esta metáfora de Von Liszt, uma conjectura sentimental capaz de aliviar sua aflição e fundir as divergências de duas verdades, ligadas por uma unidade profunda: a ciência e arte, aparentemente divergentes.

Enfim, Wanderley ocupou a cadeira 32 da Academia Paranaense de Letras, onde foi recebido em 18 de setembro de 2000. Deixou, na verdade, cinco livros de poesias: “Folhas Caídas”, “Caminhos”, “Grito Mudo”, “Alma Nua” e “Caleidoscópio”, com participações que incluíram até o Anuário de Poetas do Brasil, além da imprensa em geral.

Recebeu o Colar de Mérito Cultural, por sua participação em concurso de poesia e o prêmio Apollo Taborda França, outorgado pela Câmara Municipal de Curitiba.

Para Noel Nascimento, que o saudou na recepção da Academia e que foi igualmente poeta e promotor, Wanderley deixou um belo e rico legado de sentimento amoroso, igual ao que imprimiu à sua vida e ao seu sacerdócio na Justiça. Vida modesta, de gestos simples e palavras amenas e amigas. Percorreu uma via iluminada pela poesia e pelo amor, e se desnudou em versos para celebrar uma visão amorável da vida, sobre a qual projetou uma coroa de confraternização universal. Seu “Grito Mudo” não resistiu o desafio de “… não ser poeta nessa nave errante. Como não ser poeta diante de tanta beleza”. E refaz a voz para celebrar que “é preciso amar,… Soltar as rédeas do coração… dar trela à imaginação… Sorrir e chorar de amor… porque amor é fundamental”.

E assim foi José Wanderley Resende, um amigo de tão suave presença e permanente lembrança. Um poeta caloroso, semeador do amor.

Eu, aprendiz da arte de rimar, dediquei-lhe POETAS:

                No Correio de Poesia, 
                os versos são variados,
                autores de quilate,
                Osael de Carvalho e
                José Wanderlei Resende.

                Paraíba e Paraná.
                João Pessoa e Curitiba.
                Estados e Capitais irmãs,
                a refletir o fulgor das cãs.

                A Tua luz e os Teus olhos,
                os Meus sentidos e o Vermelho,
                são Deslumbrantes Portais.

                As Dedicatórias encandecendo,
                Nascendo a aurora,
                Te abraço.

                As Sementes e o Amigo Sábio,
                Um amigo entre o Bem e o Mal.

                Títulos são títulos,
                Poetas são poetas.
                O fim é o fim.
                (Cotidiano Forense, Vitória Gráfica & Editora, 2016)

O Desembargador Luis Renato Pedroso escreveu ‘O POETA DE CAMBARÁ “Senhor, quando ocorrer um vazio em minha vida, ocupa, por misericórdia, o meu coração”.

Não é a primeira, nem a segunda vez, que escrevo sobre o’Juiz Poeta’ ou ‘Poeta Juiz’.

Fi-lo em 1987, quando presidente da Associação dos Magistrados do Paraná, abrindo revista oficial da entidade, estabelecendo um paralelo com o saudoso colega, também vate, Assad Amadeo.

Depois, em outro de 2001, neste mesmo jornal, repeti a dose, louvando as qualificações profissionais do, hoje, desembargador do egrégio Tribunal de Justiça.

Desta feita, quero também lembrar-lhe os vínculos com Cambará, progressista cidade do norte pioneiro, onde usufruiu a infância, terra de tantos e saudosos amigos, como Benigno Bitencourt de Moraes, Hermínio Mello e Otávio Ferreira Rodrigues.

Aliás, prefaciando ‘Alma da Terra’, da também cambaraense Alice do Amaral Faria, livro de leitura amena e agradável, verdade evocação da terra amada, lembrei aqueles diletos companheiros de uma época de luta democrática, sob a bandeira do grande brasileiro Brigadeiro Eduardo Gomes.

Refiro-me assim, e por evidente, a José Wanderley Resende, consagrado poeta, imortal da Academia Paranaense de Letra e destacado membro do Centro de Letras do Paraná, que tenho a honra de presidir.

Vasta é a sua bibliografia, destacando-se: Folhas Caídas, Caminhos, Grito Mudo e Alma Nua.

Esta última, a exemplo das demais, contém variados poemas de grande sensibilidade, certo que o projetaram no mundo literário nacional, chamando-0 a participar de antologias e encontros vários.

Não é demais repetir o que escreveu o admirável presidente do nosso Cenáculo Maior, Túlio Vargas: ‘Alma Nua é sua mais recente contribuição à literatura paranaense, onde ressalta a espontaneidade dos sentimentos mais nobres e refinada inspiração, revelando acuidade na observação dos fatos do quotidiano e profundeza em suas reflexões’.

Dela se extrai o pensamento que encima estes modestos comentários, como a beleza deste poema:

                                 Tu não sabes
                                 Tu não sabes, querida,
                                 e nem conheces,
                                 o amor que eu tenho
                                 guardado para ti.
                                 Se eu ouço os pássaros
                                 cantando nas manhãs,
                                 é tua voz que escuto
                                 maravilhado.
                                 Se caminho pelos jardins
                                 floridos, é uma flor só
                                 a que vejo.
                                 De todas as cores, de todas
                                 as formas e matizes,
                                 é em seu semblante
                                 gracioso que visualizo.
                                 Tu não sabes
                                 que é atrás de ti
                                 que eu ando na busca
                                 mais tenaz;
                                 que é no meu coração
                                 que mora o maior anseio;
                                 que é na tua busca
                                 mais contínua que meus pés
                                 caminham, sem, no entanto,
                                 poder encontrar-te.
                                 Mas tanta sensibilidade tem uma explicação:
                                 Cirênia, a doce esposa e companheira de tantos anos e feliz convivência.
                                 

Daí, porque, repito transcrição anteriormente feita:

                                  Cirênia
                                  Hoje,
                                  sem querer,
                                  sem perceber,
                                  fomos o amor.
                                  O tempo burilou
                                  o sentimento,
                                  espantou o pássaro
                                  faminto de paixão.
                                  Mas devagar
                                  foi, como um pedreiro,
                                  assentando as peças
                                  de uma vida a dois,
                                  que se tornou uma.
                               
Com tamanha faculdade de sentimento, com tanta ternura, jamais poderá existir vazio no coração do ‘Juiz Poeta’, porque o ‘Senhor da Vida’ sempre estará ao seu lado! (O Estado do Paraná – 27/07/2003)

A sua filha Cibele Cristina Freitas de Resende, ingressou por concurso público no Ministério Público do Paraná, ocupando atualmente o cargo de Procuradora de Justiça.

Por Desembargador Robson Marques Cury.


 
Desembargador José Wanderley Resende