No mês em que se comemora o Dia dos Povos Indígenas, o TJPR traz uma entrevista com um representante kaingang que fala um pouco dos desafios de manter a cultura indígena atualmente, e qual a importância dessa data para sua cultura e seu povo. Confira!

 

 

 

 

Florencio Rekayg Fernandes, pertencente ao povo indígena, etnia kaingang, marca tribal Kamẽ (rá téj), nasceu no 31 de dezembro de 1976, na Terra Indígena de Rio das Cobras, cidade de Laranjeiras do Sul/ PR.

Face à sua liderança nata, ainda muito jovem tornou-se líder da sua comunidade.

Com a vocação para o autodesenvolvimento, trilhou caminhos que o conduziram para a Faculdade, Pós-Graduação e Mestrado na área de educação, sem a necessidade do benefício de distribuição de cotas oferecido pelo MEC.

Atualmente é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia na Universidade Federal do Paraná.

 

Qual a importância para a comunidade indígena a comemoração oficial do seu Dia?

O dia 19 de abril é marcado por mobilizações, no mundo inteiro, pelos indígenas e militantes da causa indígena. Mas algumas comunidades comemoram com a realização de festas comunitárias e atividades culturais de valorização e fortalecimento da cultura.

 

Qual o legado que os povos indígenas desejam passar para as futuras gerações?

As preocupações são muitas devido à evolução e aproximação com a sociedade não indígena. Mas penso que através da busca pelo conhecimento podemos encontrar caminhos, para as futuras gerações, para que os traços culturais fiquem na memória. É a conscientização para manter viva a herança de nossos ancestrais.

 

Há uma conscientização continua relativa à preservação das ricas reservas ambientais destinadas e garantidas por lei à comunidade indígena?

O contato com o mundo não indígena vem acompanhado de muitos riscos, que em algumas aldeias do Estado fez com que a língua indígena deixasse de ser falada prevalecendo a língua portuguesa. Preocupante o fato de que se torna difícil a recuperação de alguns traços culturais. Pensando nisso precisamos cada vez nos apoderar do conhecimento dos “ brancos” para usá-lo em prol de nossa resistência e luta por tudo aquilo que nos garante toda a legislação.

 

 

 

O que significa para os povos indígenas o apoio e proteção da FUNAI?

Nós indígenas passamos por vários momentos na história que foram terríveis, até surgir a FUNAI. Tivemos momentos em que, quando tratamos da questão de atendimento, já foi melhor. Infelizmente nas mudanças governamentais o atendimento vem decaindo e os povos indígenas vêm sofrendo com a atual administração. Há outros órgãos que atendem outros setores, como saúde e educação, que precisam urgentes de uma reestruturação.

 

Como é ser indígena em nossos dias?

Ser indígena nos dias atuais é um desafio, principalmente para nós acadêmicos que temos uma missão para mudar um pouco a visão que a sociedade tem a nosso respeito. Requer dedicação e força de um guerreiro para enfrentar as dificuldades que passamos para que a nossa identidade seja reconhecida, valorizada e respeitada.

 

Qual a mensagem que o senhor deixa no dia comemorativo ao povo indígena?

Que a sociedade reconheça a nossa identidade e nos dê o respeito que tanto almejamos. Todos os dias lutamos pelo reconhecimento. Precisamos assumir os espaços que nos proporcionam uma forma de atender os nossos parentes nos órgãos públicos municipais, estaduais e federais.