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História do Judiciário Paranaense - Desembargador Cyro Mauricio Crema


HISTÓRIA DO JUDICIÁRIO PARANAENSE - DESEMBARGADOR CYRO MAURICIO CREMA

Por Des. Robson Marques Cury. Em memória do Des. Cyro Mauricio Crema.

 

Cyro Mauricio Crema, filho de Valentim Crema e de Margarida Nardi Crema, nasceu no dia 22 de setembro de 1930, em Tangará (SC). Bacharel em direito pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, na turma de 1962, ingressou na magistratura como juiz substituto no dia 08 de julho de 1963, tendo exercido este cargo nas comarcas de Arapongas, Maringá e Apucarana. 
Aprovado em concurso para juiz de direito, a partir de 6 de junho de 1964 atuou nas comarcas de Ibaiti, Loanda, Jaguapitã, Maringá e Curitiba. Em 25 de junho de 1990 foi nomeado juiz do Tribunal de Alçada e, no dia 9 de fevereiro de 1996 foi promovido ao cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná. 

Aposentou-se em 20 de setembro de 2000 e faleceu no dia 1º de setembro de 2010.

Grande amigo. Com ele muito aprendi. Orgulhava-se da sua humilde profissão de sapateiro na juventude em Ponta Grossa e dos seus esforços e sacrifícios para estudar.

A sua grande paixão era cantar. Todos os gêneros, mas preferia os clássicos populares. Não podia ver um microfone. Gravou diversos cassetes. Cyro e a Turma da Noite. Distribuía as fitas para todos. Tanto insistiu comigo que depois de muito treinar gravei algumas músicas em fita cassete no estúdio profissional que o atendia.

Sua esposa – Anaurelina Pires Crema – escreveu “Um Oficial de Justiça Especial”:

“Para receber os que chegam, Curitiba tem um coração delicado e reservado. Inicialmente nada lhe impressiona. Somente depois o abraço vem, generoso e quente. Forte, com mil braços como um majestoso pinheiro.

Quando em 1977, Cyro e eu chegamos aqui, alugamos uma casa muito bonita, ampla e elegante num bairro nobre. Para quem acabava de deixar uma cidade como Maringá – Cidade Canção – onde o sol era uma constante e os amigos iluminavam em algazarras e mimos todos os nossos dias, era o mínimo que podíamos nos dar. Alexandra, com dez anos, frequentava uma escola a um quarteirão de casa. Todos os dias, lá se ia “filha de Deus” – como a chamávamos carinhosamente – deixando-me apreensiva ao vê-la sumir na densa neblina, antes mesmo de dar dez passos.

Às 9 h da manhã a campainha tocou. Ao atender deparo com um oficial de justiça, muito compenetrado, mandado em punho. Em voz alta e muito clara começou a ler, falando em nome do Dr. Cyro Maurício Crema, alguma coisa sobre execução.
À medida que ia lendo, foi baixando a voz e levantando o papel contra o rosto, enquanto me olhava de soslaio. Terminou a leitura resmungando as últimas palavras e papel quase colado no rosto. Não exigiu o ciente e nem entregou a contrafé. Gentilmente agradeceu e saiu o mais rápido possível que pode.

Depois soubemos que o Sr. Moacyr Anselmo da Silva, o oficial de justiça, chegou muito alarmado para o Cartorário Michel Khouri:
                             - Michel, o que que eu faço? O juiz se executou. Reconheci a mulher dele quando estava lendo o mandado!
Ocorreu que o proprietário da casa que alugávamos fazia um estágio na Alemanha e, por esta circunstância, estava com um pequeno débito junto ao fisco municipal. E Cyro, com tantos mandados para expedir, não reconheceu no complicado nome germânico o seu próprio senhorio. 

Até hoje rimos muito dessa situação e continuamos encantados com o embaraço e a sensibilidade do oficial de justiça.” (Com Justiça e com Afeto, 1994, Artes & Textos)

A sua filha Alexandra Pires Crema, aprovada em concurso, atuou no meu gabinete de Juiz do Tribunal de Alçada e, por mim incentivada, graduou-se em Direito.

 - Desembargador Cyro Mauricio Crema

Por Desembargador Robson Marques Cury.