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Desembargador Adolfo Krüger Pereira


DESEMBARGADOR ADOLFO KRÜGER PEREIRA

Por Robson Marques Cury 

Adolpho Krüger Pereira, filho de Agostinho Pereira Alves Filho e de Euthália Krüger Pereira Alves, nasceu no dia 11 de julho de 1926, na cidade de Paranaguá. Casou-se com Janete Krüger Pereira.  

Ele se formou bacharel pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde colou grau no ano de 1953. Iniciou sua carreira na magistratura em 11 de dezembro de 1959, quando foi nomeado juiz substituto da 9ª Seção Judiciária, com sede na comarca de Londrina. Atendeu, na condição de substituto, as comarcas de Rolândia e Cambé.  

Em abril de 1962, Adolpho Pereira foi realocado para a 9ª Seção Judiciária, com sede na comarca de Campo Largo.  Ainda neste ano, foi para a 3ª Seção Judiciária, com sede em São José dos Pinhais.  

Adolpho foi designado juiz substituto para atender as comarcas de Paranaguá e Antonina. Em 1962, em virtude de habilitação em concurso, foi nomeado juiz de Direito, e, a partir de 28 de setembro do mesmo ano, atuou nas comarcas de Joaquim Távora, Jaguariaíva, Santa Isabel do Ivaí, Jaguapitã, São José dos Pinhais e Curitiba. Em 1963, foi promovido para a comarca de 2ª entrância de Santa Isabel do Ivaí, em 1964, para a comarca de Jaguapitã, e para a 3ª entrância de São José dos Pinhais, no ano de 1967.  

Em 1974, ele foi promovido para entrância final da comarca de Curitiba. Foi nomeado juiz do Tribunal de Alçada, no dia 26 de dezembro de 1979. E, no dia 11 de novembro 1985, foi nomeado para o cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR).  

O magistrado exerceu o cargo de presidente e vice-presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Foi diretor-geral da Escola da Magistratura do Paraná (Emap) na gestão 2006/07. Aposentou-se compulsoriamente em 6 de agosto de 1996. E faleceu no dia 26 de agosto de 2016 em Curitiba.  

Adolpho Pereira foi paradigma para gerações de magistrados. Tive por ele grande admiração. Emérito jurista. Latinista, recitava de memória passagens da língua dos romanos. Na juventude jogou futebol amador e profissionalmente. Verdadeira enciclopédia do futebol, conhecia tudo. Amante da boa mesa. Nas férias coletivas de janeiro, desfrutadas na colônia da Associação de Magistrados do Paraná (Amapar), em Guaratuba, eu ficava impressionado com ele comendo caranguejo do almoço até o jantar, praticamente sem parar. Quando o Afinho, como era chamado pelos próximos, e Jair Ramos Braga se reuniam em torno de uma mesa, qualquer um ficava admirado com o apetite e o conhecimento de gastronomia de ambos.  

Sempre ao lado da inseparável esposa, Janete, e dos filhos. Sua filha, Denise, seguiu seus passos, ocupando o cargo de desembargadora do TJPR.  

Agradeço ao desembargador Antonio Loyola Vieira por ter encaminhado o texto da lavra do jornalista Carneiro Neto, filho do desembargador Armando Jorge de Oliveira Carneiro, intitulado: ‘Juiz Amigo’.  

“O desembargador Adolpho Kruger Pereira, na juventude, foi um grande jogador de futebol. Centroavante artilheiro do Ferroviário pelo qual sagrou-se campeão do Centenário do Paraná, em 1953, o famoso Afinho encerrou a carreira no Athletico.  

Logo em seguida concluiu o curso na Faculdade de Direito e foi aprovado no concurso público para a magistratura. Juiz Substituto iniciou a carreira em uma cidade do norte paranaense.  

No primeiro dia, em sua primeira comarca, saiu cedo do hotel e foi conhecer o Fórum. No caminho, passando em frente a um bar com barbearia ao lado, no centro da cidade, foi reconhecido por um fã do seu tempo de jogador:  

- Grande Afinho, o que você anda fazendo por aqui?  

- Eu vou morar algum tempo na cidade...  

- Que bom, assim você pode reforçar o nosso time!  

- Mas eu não jogo mais, agora sou juiz.  

-Melhor ainda, estamos precisando de um juiz caseiro que ajude o nosso time no campeonato!”. (Lá no Pasquale, Carneiro Neto, 2022)  

O magistrado Loyola, cuja história de vida está estampada na obra “A História do Poder Judiciário Paranaense, volume 2, página 59, CURY, Robson Marques, Vitória Gráfica & Editora, 2023”, e que atuou no início da vida profissional como professor de Educação Física e preparador físico do Coritiba Futebol Clube (FC) e Colorado EC, narra passagem da sua infância que o marcou profundamente:   

“Eu tive a felicidade de assistir o desembargador Afinho jogando pelo Ferroviário, isso em 1953 ou 1954, com 7 ou 8 anos. Foi um jogo entre o Ferroviário e o Corinthians. Anos depois, eu contando numa roda de amigos o lance daquele jogo histórico em que o China pegou a bola pela direita e cruzou, fui interrompido pelo desembargador Afinho dizendo agora sou eu: subi matei no peito e quando ela caia vi o Gilmar sair do gol e aí foi caixa!”  

Sua história de vida está registrada em muitos compêndios, todavia seu depoimento intitulado “O Atleta e o Magistrado”, exuberantemente recheada de fatos jurídicos e esportivos merece transcrição:  

“Nasci em Paranaguá, e foi ali, na praça dos eucaliptos, nos fundos da casa de minha avó, que, juntamente com outros meninos, comecei a dar os primeiros chutes, com bola de tento, a que se usava na época.  

O apelido Afinho é de família. Meu avô materno faleceu quando minha mãe tinha apenas cinco anos de idade. Chamava-se Adolpho Krüger. Meu irmão mais novo, Agostinho Pereira Alves Neto, tinha dificuldade, como todas as crianças, de pronunciar o polissílabo Adolfinho e, suprimia a segunda sílaba, chamava Afinho, o que foi adotado por todos. Até hoje, superando as atividades, a pessoa, as posições, todos os que me conhecem preferem me chamar de Afinho, o que me agrada e devo ao meu irmão Neto.  

Na minha terra, em time organizado, só joguei uma vez. No infantil do Rio Branco, quando ganhamos de goleada. Fiz vários gols.  

Até então eu me recordo que só havia visto uma partida de futebol com meu pai, quando morávamos no Rio de Janeiro. Daquele jogo eu não me lembro de nada, apenas de que os times eram o Vasco da Gama e o Botafogo e o embate terminou em 1x1.  

Mudamo-nos para Curitiba no final do ano de 1939 e, no ano seguinte, fui matriculado no Ginásio Paranaense na Rua Ébano Pereira, esquina da Rua Saldanha Marinho, rua na qual se situava a Peixaria Brasileira, bem ao lado do Ginásio. Esta pertencia ao meu pai e ali comecei a trabalhar como entregador de peixe, nos diversos hotéis de nossa capital.  

Em frente ao Ginásio havia uma pracinha na qual, juntamente com os colegas do ginásio, fazíamos nossas peladas quando não havia aula.  

Meu tio e grande amigo, Gabriel Frecceiro de Miranda, irmão de minha mãe, que mais tarde veio a ser magistrado de grande talento, tinha vindo de Paranaguá para trabalhar em Curitiba. Ele era também um atleta. Praticava o futebol como goleiro do Oceania naquela cidade e era um ídolo do basquete. Por suas qualidades, foi convidado, por carta, para treinar no time do Guimarães, que era organizado pela família de Luiz Guimarães e seu filho Zuílio. Tinha como treinar o famoso jogador da época, Janguinho, que jogava no Santos e foi campeão. Considerado um dos maiores destaques do futebol na época.  

Como Gabriel estava morando em nossa casa, convidou-me para ir com ele ao Guimarães, cujo campo se situava na propriedade da família que residia no local. É o atual Castelo do Batel, que depois foi vendido para o ex-governador Moisés Lupion e hoje é um local famoso para eventos sociais.  

Pediu-me para que eu também levasse uma chuteira. Fomos bem recebidos. Gabriel exibiu a carta-convite, com a qual adentramos ao vestiário. E, por engano, mandaram que eu me fardasse também, acreditando que eu também havia recebido uma carta-convite.  

Gabriel, no gol fazia proezas, e eu, torcia por ele. Acontece que quase no fim do treino, com pena de mim que ainda me encontrava sentado no banco, Janguinho, depois de perguntar em qual posição eu jogava, mandou-me entrar no treino. Em poucos minutos fiz excelentes jogadas e marquei dois gols. Foi um sucesso! Todos me perguntavam em qual time eu jogava, respondia que em nenhum. Fui aprovado por todos que pediram oficialmente para que eu passasse a integrar a equipe. Tudo aconteceu graças ao Gabriel, que inclusive desistiu do seu lugar em meu favor.  

A equipe do Guimarães era a melhor daquela época, o time era imbatível. Não me recordo de haver perdido uma única vez. Ali despontaram muitos jogadores que ficaram famosos não só no futebol, onde eram todos craques, como também em outras áreas. Destaco entre eles o Jackson Nascimento, no futebol; Jayme Canet, na política; Leônidas Mocellin, Sérgio Marcondes, Vasco Coelho, José Rocha e Francisco Boscardin, na Medicina; e tantos outros de não menor expressão.  

Havendo a família Guimarães dado um fim ao time, o técnico, Janguinho, adotou-o com o nome de Glória Futebol Clube, que continuou com o sucesso adquirido pelo Guimarães.  

Luís Guimarães era atleticano e fora presidente do clube. Foi em sua gestão que, juntamente com o seu amigo Hermano Machado, adquiriu o campo utilizado até hoje pelo atual Atlético Paranaense. Assim procedeu porque foi pressionado pela família Hauer, proprietária do terreno que não queria mais alugar o campo, locado para o Internacional por seu presidente, Joaquim Américo Guimarães.  

Após a aquisição, o alugaram para o Clube Atlético Paranaense e logo a seguir permutaram o terreno com outros, doados pelos governos de Afonso Camargo, para o Internacional, e Manoel Ribas, para o Atlético.  

Acredito que por isso, o Janguinho, para agradar aos Guimarães, após a extinção do time Glória Futebol Clube, colocou todos os seus jogadores no Clube Atlético Paranaense.  

Do juvenil do Atlético fui servir ao exército nacional, no ano de 1945. Fui para a Escola de Instrução Militar 321 (EIM 321), que era situada no Coritiba FC.  

A guerra com os europeus acabou em maio de 1945 e nos livramos da viagem para a Itália, já que estávamos no sexto escalão que só se deslocaria para lá em outubro daquele mesmo ano. 

Em seguida, no ano de 1946, fui para o Juventus, onde permaneci por muito pouco tempo tendo jogado no torneio. Início daquele campeonato e em apenas uma partida vencemos o Britânia por 4x1, com um gol de minha autoria.  

Parei momentaneamente com o futebol naquela ocasião, pois havia feito concurso e fui aprovado. Passei a trabalhar na Companhia de Seguros Sul América Marítimos e Acidentes e lá me encontrava há alguns meses quando ali compareceu o oficial da aeronáutica, tenente Nunes Fernandes, vindo do Rio de Janeiro. Foi treinador do Bonsucesso e passou a treinar o Juventus da capital e soube que eu poderia preencher as deficiências que havia na sua equipe.  

Aceitei a oferta e fui treinar no Juventus, onde, na época, encontravam-se os valores como Nininho, desembargador Plinio Cachuba de saudosa memória; Toni, mais tarde ídolo no Coritiba; Renatinho (Renato Follador, hoje engenheiro agrônomo e que comigo fez ala esquerda na Seleção Paranaense de Futebol); Washington; Xixo (Acir Fernandes); Toro; Costinha e outros jogadores que fizeram sucesso na época.  

Depois fui para o Clube Atlético Ferroviário, que foi campeão em 1948, vice no ano seguinte, campeão novamente em 1950 e, ainda, campeão do Centenário da Emancipação Política do Paraná, em 1953. Ali fui ídolo da torcida e artilheiro consagrado no clube, pois marquei 148 gols em todos os jogos de que participei.  

Em 1952 fui campeão pela Seleção Paranaense.  

Em 1954 fui transferido para o Clube Atlético Paranaense, onde disputei os campeonatos de 1955, 1956 e poucos jogos em 1957 devido à lesão. Marquei 58 gols.”  

Após concurso público, assumiu a carreira de advogado do Estado junto ao departamento jurídico da Secretaria do Trabalho e Assistência Social, prestando assistência judiciária aos necessitados, precipuamente para as questões de família. Adolpho recorda ter ajuizado ações em diversas comarcas, como em São José dos Pinhais, com o então juiz Marçal Justen; em Campo Largo, onde judiciava o juiz Adolfo Sigwalt; em Jacarezinho encontrava o Sczepan Maximiliano Stasiak; Ariel Ferreira do Amaral e Silva em Santo Antonio da Platina; Marino Bueno Brandão Braga em Arapongas; Jorge Andrigueto em Apucarana; Aurélio Feijó em Rolândia; e em Curitiba militavam Alceste Ribas de Macedo, José Pacheco Junior e outros de saudosa memória.  

Afinho segue seu depoimento: 

“Eis que, novamente, surge meu tio e amigo, anjo Gabriel Geremias Frecceiro de Miranda, que já era juiz de Direito em Cambé, insistindo para eu prestar concurso para magistratura, apesar de eu entender que não precisaria sair de Curitiba como advogado do Estado, e com escritório no seu apartamento na rua Cândido Lopes, esquina com a rua Ébano Pereira. Gabriel dizia que precisava olhar para o futuro, e encontrou uma aliada invencível em minha esposa, Janete, que, à minha revelia, inscreveu-me para o concurso e quase exigiu que eu o fizesse. Acabei fazendo as provas e obtendo bons resultados. Após o concurso, o presidente do Tribunal de Justiça, o então desembargador Lauro Sodré Lopes, me disse que, devido a minha classificação em primeiro lugar, exerceria minhas funções na comarca de Londrina e, segundo ele, era um prêmio pela classificação.”  

O desembargador Adolpho Krüger Pereira lembrou que, ao iniciar a carreira, tomou posse como juiz substituto na comarca de Londrina, então com quatro varas, sendo seus juízes expoentes na magistratura paranaense: Aldo Fernandes, Theobaldo Navolar, Ossian França e Hércules Macedo. Foi recebido pelo magistrado Aldo Fernandes, um juiz extraordinário. Apesar de seus grandes conhecimentos jurídicos, era de uma humildade ímpar. Sua esposa, dona Zuleica Maranhão Fernandes, de educação e gentileza esmerada. Ambos me ajudaram muito no início da carreira.  

Não compreendo até hoje como um juiz como Aldo Fernandes tenha sido tão injustiçado por aqueles que tomaram o poder pela força na revolução de 1964. Aldo Fernandes aposentou-se como juiz quando retornou aos quadros da magistratura. Acredito que a injustiça que sofreu nunca foi reparada. Só o retorno ao cargo não era suficiente. Sua carreira foi obstruída pelos revolucionários e assim deveria ser compensada em sua volta com promoções até o ápice da carreira. Tenho nele um exemplo de dignidade, honradez e ética que, com a imparcialidade, são componentes da inteireza de um magistrado. (Esse depoimento foi transcrito no capítulo sobre o “Magistrado Aldo Fernandes” – em “A História do Poder Judiciário Paranaense”, volume 2, Vitória Gráfica & Editora, 2022, CURY, Robson Marques)  

O querido Afinho encerra seu depoimento acentuando:  

“Como atleta, obtive fama e prestígio, carinho da parte de todos os que admiravam o esporte que pratiquei. É gratificante receber carinho e agradecimentos de quem você não conhece, mas sabe serem sinceras as manifestações. Também, como magistrado, recebi manifestações de diversas áreas da sociedade sempre enaltecendo meu caráter e meu trabalho.  

Tudo isso foi para mim muito gratificante!  

Tanto para ser atleta como para ser magistrado é preciso ter boa índole, que é parte indispensável para todo homem. Quem tem boa índole tem também outras qualidades.  

O atleta necessita de preparo físico, vigor, destemor e da ética referente à conduta humana, tanto no ponto de vista do bem e do mal quanto no meio social.  

O magistrado tem que reunir em sua pessoa os predicados da inteligência, honestidade, amor ao trabalho, bom senso, domínio pessoal, circunspeção, coragem e principalmente imparcialidade.  

O atleta e o magistrado devem ser homens de bem nas suas respectivas atividades, como é próprio de todos os homens dignos e honrados.  

O mineiro Orozimbo Nonato, juiz da mais alta corte do país, disse que o que se exigia para ser magistrado era ‘um cúmulo de virtudes, de modéstia, compostura, discrição, cultura, operosidade, ânimo sofredor e paciência’, o que igualmente se aplica ao atleta.  

Na conjugação das atividades de atleta e de magistrado se fortalecem os valores mais íntimos que tenho guardado em minha consciência, como os maiores ensinamentos que recebi de meus pais, em minha formação.  

Sem arrogância e sem orgulho, mas armados de resistência moral inquebrantável, tanto o atleta quanto o magistrado atenderão aos impulsos da consciência em todas as circunstâncias que se lhe apresentarem.” (Revista Toga e Literatura, Amapar, 2008)  

É o legado que o desembargador Adolfo Krüger Pereira deixa para as noveis gerações de magistrados.  

Descrição da imagem de capa: Arte gráfica com estantes de livros no fundo e no centro o título com os dizeres - História do Judiciário Paranaense.