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História do Judiciário Paranaense - Desembargador Roberto Pacheco Rocha


HISTÓRIA DO JUDICIÁRIO PARANAENSE - DESEMBARGADOR ROBERTO PACHECO ROCHA

Por Robson Marques Cury

Exerceu os cargos de Corregedor Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do Paraná e de Vice-Presidente, Corregedor e Presidente do Tribunal Regional Eleitoral e, preparado e competente como era, ocupara naturalmente outros importantes cargos no cenário estadual e nacional.
Recebeu, ao longo da carreira, inúmeras homenagens, mas talvez a mais marcante, ‘post mortem’, foi a entronização da sua fotografia no anexo 1 do Fórum de Londrina que ostenta o seu nome.
Dotado de inteligência brilhante, dominava diversas ciências com naturalidade.
Narro duas passagens do nosso convívio:
Nos anos oitenta, nas férias forenses de janeiro na colônia dos magistrados de Guaratuba, cheguei com minha camioneta Chevrolet D-10 com veleiro 12 pés marca Holder, zerinho, no rack do teto. O Roberto, experiente velejador de oceano, ajudou-me na montagem e ensinou-me a velejar na baía local. Aí começou a minha paixão pelas velas coloridas. 
Tempos depois ao estacionar no Tribunal minha moto coreana Hyosung, imitação da Harley Davison americana, o Roberto manifestou interesse em experimentá-la e embora nunca tivesse pilotado disse que sabia andar de bicicleta, no sábado seguinte numa quadra sem movimento após as minhas explicações saiu andando com facilidade e, após diversas voltas, voltou satisfeito, no dia seguinte emprestei a moto do vizinho Durval Monteiro Castilho Júnior e rodamos o dia todo. Aí nasceu o Roberto motociclista.
Realizou longas viagens, inclusive em companhia do meu “professor” Fernando Vidal Pereira de Oliveira, Jorge Massad, Valter Ressel e outros, percorremos com motos Harley Davison a rota 66 no Estados Unidos. Nessa viagem, espetacular foi o passeio realizado em pequeno avião partindo de Sedona (lembra a nossa Vila Velha), sobrevoando o famoso Grand Canyon na Califórnia.
A sua filha Elizabeth Maria de França Rocha seguiu-lhe os passos na magistratura e, na iminência de ser promovida, por merecimento, para o cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça, por mim instada, prestou primoroso depoimento.


“Venho com muita honra dizer algumas palavras sobre meu pai, Roberto Pacheco Rocha, filho de Antônio Batista Rocha e Maria de Lourdes Rocha. Assim faço também em nome dos meus irmãos, Cybele Maria de França Rocha e Roberto Pacheco Rocha Junior.
Por tê-lo como ídolo, herói e alicerce, reconheço desde já a falta de imparcialidade em minhas palavras, sendo envolta em emoção e com enorme orgulho e profundo respeito que posso dizer que eu e meus irmãos somos privilegiados em tê-lo como pai.
E não estou conjugando o verbo no passado, por acreditar que nosso pai é imortal em nossos corações, mesmo sendo impossível preencher a sua ausência física e a saudade que nos consome.
O segundo irmão mais velho dentre 11 filhos, nasceu em 30 de dezembro de 1941, em Tubarão-SC, onde passou a infância.
Amadureceu precocemente, pois com 14 anos de idade afastou-se da família para estudar em Curitiba, tendo começado a trabalhar muito cedo para se manter.
Formou-se em dezembro de 1964, pela Universidade Federal do Paraná, tendo ingressado na magistratura paranaense em junho de 1966.
Como Juiz Substituto atuou nas comarcas de Guarapuava, Ivaiporã, Laranjeiras do Sul e Prudentópolis.
Como Juiz de Direito, nomeado em outubro de 1967, sua primeira comarca foi Ibaiti, seguindo pelas comarcas de Antonina, Ivaiporã, Cascavel, Londrina e Curitiba.
Durante os mais de seis anos em que judicou em Londrina, lecionou no curso de Direito da Universidade Estadual de Londrina, nas cadeiras de Direito Civil e Prática de Processo Civil.
Removido para Curitiba em julho de 1983, permaneceu designado como Juiz Auxiliar da Corregedoria-Geral da Justiça de fevereiro de 1985 a dezembro de 1986, quando foi promovido ao cargo de Juiz do Tribunal de Alçada.
Nomeado Desembargador em fevereiro de 1995, foi Corregedor-Geral da Justiça no biênio 2003/2004.
Também integrou o Tribunal Regional Eleitoral -TRE, a partir de junho de 2000, como Corregedor e Vice-Presidente, e, a partir de fevereiro de 2001, como Presidente, período em que atuou diretamente no projeto de implementação de Fóruns Eleitorais no interior do Estado.
Veemente no modo de ser e impetuoso no agir, ele deixou ao longo dessas etapas a marca de sua versatilidade intelectual e de seu singular e contagiante dinamismo.
Agradeço a ele por ter compartilhado a sua sabedoria comigo e com tantas outras pessoas; daí sua inequívoca influência em minha vida profissional, com quem aprendi o que é ser Juiz.
Ele trilhou essa honrada carreira até dezembro de 2005, quando resolveu se aposentar a fim de desfrutar mais intensamente sua vida, depois de ter vencido com altivez e fibra as adversidades provocadas pelo câncer.
Sua vida despojada de aventuras, explorando mares com seu veleiro e percorrendo estradas com sua motocicleta, foi prematuramente interrompida em 1º de janeiro de 2007, por um acidente doméstico.
Em sua despedida do Tribunal de Justiça em razão da aposentadoria, o Des. Oto Luiz Sponholz destacou: 
‘Gostaria de rememorar, pois também o Desembargador Roberto Pacheco Rocha foi meu colega de turma, e registrar também do fundo do coração, em nome daqueles que, com ele, em 1964 se formaram, quando já também ele era um dos paradigmas e que nos levava a acreditar sempre, de que tinham razão os estudantes revolucionários paulistas, quando diziam ‘quando se sente bater no peito heroica pancada, deixa-se a folha dobrada, enquanto se vai morrer’. A vida de Roberto Pacheco Rocha foi assim, foi assim enquanto bancário, enquanto colega, enquanto Magistrado, enfim em todas as atividades que ele desenvolveu. Casou-se ainda estudante. As dificuldades eram grandes, mas ele soube se firmar e soube, mais do que tudo, se impor como um exemplo de aluno, de colega, coisa que fez também nas comarcas do interior onde viveu, no Tribunal de Alçada, quando chegou e ali permaneceu por mais de dez anos. Sempre foi aquele mesmo Juiz que todos conhecemos. Corregedor na nossa gestão, teve ali um trabalho profícuo, com exemplos para todos nós e para todos aqueles que exercem a função de fiscalização. Nós queremos, e penso também que em nome dos colegas da turma de 1964, registrar a perda causada por essa aposentadoria, que para nós é grande, e que, pelo convívio que tivemos, jamais dele nos esqueceremos, inclusive como impulsionador do exemplo que nos deixa como magistrado. Eram essas as considerações, feitas também em nome de Carlos Augusto Hoffmann, Waldomiro Namur, Eraclés Messias, enfim, daqueles que com ele se formaram’.
Patrono do Fórum Eleitoral de Curitiba, quando da respectiva inauguração o então Presidente do TRE, Desembargador Ângelo Zattar, disse que o Desembargador Pacheco Rocha ‘Era um homem aflito frente às injustiças, cultivava os valores fundamentais do ser humano, características, aliás, que afloravam em sua personalidade: probidade, lhaneza e grandeza de espírito’.
Ainda na solenidade de inauguração do Anexo 1 do Fórum de Londrina que levou o seu nome, o então diretor e querido colega Álvaro Rodrigues Junior lembrou em seu discurso que o Desembargador Pacheco Rocha ‘era reconhecido pelo notável saber jurídico, pela facilidade em reconhecer o ponto central da controvérsia e sintetizar a questão de forma clara e acessível. Grande conhecedor da língua portuguesa, ensinava que a sentença deveria ser escrita não apenas para o advogado, mas de modo que a parte pudesse entender o seu significado, sem, contudo, abdicar da elegância e da precisão técnico-jurídica’.
Apesar de sua falta infinita, na palpitação dessa vida extinta a sua existência permanece nas recordações e nos cenários das diversas atividades de lazer que desenvolveu, envolvendo culinária, literatura, música (tocava piano, órgão eletrônico e acordeão), fotografia, pintura, computação, agricultura, marcenaria, camping, pesca, aeroclube, navegação, motociclismo e viagens.
Pela sua marcante existência como respeitado e notável magistrado, como homem íntegro, como leal amigo, como amado filho, irmão, pai e avô, seu legado é estímulo de perseverança e superação de limites, transcendendo o seu próprio tempo.
Sua herança nos enriquece, nos envaidece e nos dignifica, sendo muito maior do que a tristeza que nos consome desde a sua precoce perda.
Essa herança é atemporal, porquanto eterna através de nós, seus filhos, e por meio de seus netos Raquel, Gustavo e João Victor. 
Nos dizeres do grande filósofo Cícero, ‘Embora seja curta a vida que nos é dada pela natureza, é eterna a memória de uma vida bem empregada’.
De fato, há quem apenas passa pela vida, mas há quem, como meu pai, passa pela vida como pessoa intensa, absoluta, fazendo o bem e o justo, deixando marcas profundas naqueles que ficam.
Daí minha tranquilidade em expressar essas palavras sobre meu pai, em manifestação do amor meu e de meus irmãos, finalizando com esta citação de Victor Hugo: ‘O mais belo patrimônio é um nome reverenciado’."  


E assim, com chave de ouro, a filha, novel Desembargadora Elizabeth Rocha, encerra o comovente relato acerca do inesquecível Desembargador Roberto Pacheco Rocha.

 

Desembargador Robson Marques Cury