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II Encontro de Práticas Restaurativas é marcado pela efetividade de projetos e depoimentos


II Encontro de Práticas Restaurativas é marcado pela efetividade de projetos e depoimentos
Pessoas que passaram pelas práticas restaurativas afirmaram que o projeto é eficaz e deve ser replicado em mais comarcas do interior
Ter, 14 mar 2017 15:02:13 +0000

O II Encontro Paranaense de Práticas Restaurativas aconteceu na cidade de Maringá nos dias 9 e 10 de março, com público de aproximadamente 800 pessoas. O evento foi marcado pela apresentação de projetos e depoimentos, que consolidaram a efetividade da prática em diversas localidades do Paraná.

Tallity Wendy Pociano foi uma das personagens que suscitou aplausos na plateia. Com apenas 22 anos, ela prestou depoimento sobre a sua experiência com as práticas restaurativas.

Ainda menor de idade, aos 16 anos, Tallity começou a usar drogas. Foi presa por tráfico e chegou a ficar na cadeia durante 3 meses. A história poderia ter sido ainda pior se não fosse a atenção de um magistrado, que abriu a possibilidade de reabilitação por meio do Programa de Alternativas Penais em Prevenção ao Uso de Drogas (PAPPUD).

A menina frequentou por dois anos também as oficinas realizadas pela Oficina de Prevenção ao uso de Drogas (OPUD). Ela relatou que, “quando entrei na OPUD, eu já estava decidida que ia mudar de vida. Ela foi uma força a mais, um motivo a mais pelo qual eu falei que realmente não vale a pena eu me expor a essas situações. Aqui eu aprendi que isso não é algo que vai me levar para um lugar bom, então a OPUD rendeu várias outras alternativas. Por exemplo, se você sente a necessidade de usar a droga procura algo que substitua isso, ela foi me ensinando e ajudando até nessa questão, na reabilitação psicológica, social e como pessoa mesmo”.

Em seu depoimento no encontro, Tallity fez questão de frisar que replica tudo o que aprendeu. “Atualmente eu trabalho em um grupo da igreja na prisão, e a população que eu atendo especificamente são os menores infratores, que são aqueles que vão até os 18 anos de idade”, contou.

Além de auxiliar meninos e meninas na reabilitação, Tallity está terminando a graduação de Bacharelado em Educação Física e já é formada em Licenciatura na mesma área. Atua ainda no programa "Mais Educação", onde é monitora da oficina de dança e capoeira.

Outro exemplo que emocionou os participantes foram as ações iniciadas no Colégio Estadual Prof. João Ricardo von Borell du Vernay, em Ponta Grossa.  Também embasada na prática restaurativa, a diretoria conseguiu reverter ações de violência, brigas e depredações. Neste vídeo é possível acompanhar os resultados positivos.

Experiência

Para o magistrado Claudio Camargo dos Santos, um dos organizadores do evento na cidade, foi extremamente proveitoso o encontro. “Eu me sinto completamente rejuvenescido na minha carreira, na minha função. Precisamos de eventos como esse para ver o quanto muitas vezes, querendo cumprir a lei, não fazemos justiça, não ajudamos quem está do lado e, quando digo ajudar, não é passar a mão na cabeça, mas é encaminhar a pessoa para um atendimento de um projeto, de um programa que possa tirar a pessoa de uma situação de drogadição. Por exemplo, é uma série de coisas que está ao nosso alcance e que temos que começar a fazer, porque isso é a vida, a vida é movimento.”

Palestrante Internacional

Além dos trabalhos apresentados, o encontro contou com a presença da pesquisadora francesa Christina De Angelis. A palestra teve como tema “os aspectos originais e distintos da Justiça Restaurativa no Brasil – uma perspectiva internacional”.

A pesquisadora aproveitou o ensejo também para agradecer o convite de estar participando do evento, “foi uma honra para mim, porque aqui no Brasil vocês estão fazendo um trabalho de qualidade enorme, num contexto muito mais difícil de outros países que estão trabalhando com a Justiça Restaurativa”, destacou.

Christina De Angelis enalteceu ainda a dedicação dos atuantes nas práticas restaurativas, “o que eu vi aqui, uma criatividade, um compromisso, para que a qualidade da Justiça Restaurativa fique boa. Gostei muito de ter a possibilidade de compartilhar a minha pesquisa e acho que tem muito mais para pesquisar. Gostaria de encorajar os interessados em buscar parceiras com as faculdades para poder fazer pesquisas, para continuar a aprender”.

Presidente do TJ-PR elogia iniciativa

O presidente do Tribunal de Justiça do Paraná, Desembargador Renato Braga Bettega, esteve presente na abertura do II Encontro Paranaense de Práticas Restaurativas, que aconteceu na última quinta-feira (9/03).

No uso da palavra, o Desembargador Renato Braga Bettega parabenizou os organizadores do evento e elogiou a iniciativa. “Esse novo paradigma que estamos construindo tem como foco central a restauração dos relacionamentos ao reverso de se concentrar apenas na determinação da culpa. Nesse sentido, gostaria de cumprimentar os magistrados e servidores do Tribunal de Justiça do Paraná que vêm desenvolvendo trabalhos inovadores nessa área, em várias Comarcas, como Ponta Grossa, Maringá, Londrina, fomentados pela Comissão de Práticas Restaurativas presidida pelo Desembargador Roberto Portugal Bacellar”.

O Presidente citou ainda Rubem Alves: “Eu quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos”.