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Professor Aloisio Surgik


PROFESSOR ALOISIO SURGIK

Por Desembargador Robson Marques Cury

Orgulhava-se da sua descendência polonesa. Graduado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutor pela Universidade de São Paulo (USP), ele formou-se, ainda, em letras na PUC-PR e filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 

Especialista em direito processual civil, teve como verdadeiras paixões a história do direito e, principalmente, o Direito Romano, matéria pela qual se tornou reconhecido e passou a ser referência. Foi autor de obras como “Lineamentos do Processo Civil Romano”, “Compêndio de Direito Processual Canônico” e “Viajando pela História – do Direito Romano ao Contemporâneo”.  

Começou a lecionar em 1976, como professor na UFPR, e recentemente lecionava na Uninter, era adjunto da Universidade Tuiuti do Paraná, titular nas Faculdades Integradas Curitiba, professor contratado da Universidade do Contestado, em Santa Catarina, e professor titular da PUC-PR.  

Aloisio Surgik foi presidente por cerca de vinte anos do Sindicato dos Professores do Ensino Superior de Curitiba (Sinpes). Sempre lutou pelas conquistas da categoria. Professor intransigente na defesa da democratização do Ensino Superior e da excelência do ensino. Pugnou pela democratização e humanização das relações do trabalho. Membro da Academia Paranaense de Letras Jurídicas e poliglota, lutou pela excelência do ensino, pela salvaguarda e ampliação dos direitos dos professores do Ensino Superior, pela democratização e humanização nas relações de trabalho, e contra a apropriação indevida da res publica com incansáveis críticas ao EstaR, estacionamento regulamentado e à proliferação dos pedágios em rodovias federais e estaduais. 

Fato curioso sobre o Professor Surgik. Ele tinha uma liminar judicial para não pagar Estar em Curitiba (adorava falar sobre a tese de bitributação). A liminar era plastificada e ficava no seu icônico Lada de fabricação russa, para ser exibida às mocinhas do Estar. 

Faleceu em 28-09-2017 aos 81 anos de idade, causando intenção comoção no mundo jurídico, em face da irreparável perda. 

O Chanceler da Uninter, Wilson Picler, emitiu nota lamentando a perda de Surgik: "É com profundo pesar que recebemos a notícia do falecimento do Professor Aloísio Surgik. Sem dúvida, uma grande perda para a Ciência Jurídica do Brasil. A dedicação e a amizade que cultivamos com o iluminado mestre nos trazia, além da satisfação imensa e do prazer intelectual, um grande orgulho por ter o privilégio de contar com todo o seu brilho e inteligência no corpo docente da Uninter. Que Deus o receba com o mesmo amor que o senhor recebeu os seus milhares de alunos. Muito obrigado". 

Enfim o acervo do saudoso Professor Aloísio Surgik, cuja vasta coleção conta com mais de quatro mil exemplares, será incorporado à Biblioteca Central da Universidade Tuiuti do Paraná. Ao acervo se junta a coleção do professor Moacir Lobo da Costa, totalizando 11.000 livros de Direito Romano e História do Direito. 

Era desejo de Surgik que sua biblioteca permanecesse íntegra e disponível para consulta do maior número possível de estudantes, professores e pesquisadores, preferencialmente em uma Universidade Pública. Assim, depois de conversas frustradas com a Universidade Federal do Paraná, os livros chegaram a ser encaminhados para a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 

Entretanto, diante da impossibilidade da UFSC e de outras Universidades Públicas consultadas viabilizarem em curto prazo a organização e disponibilização do acervo em face dos graves problemas orçamentários que estas instituições vêm amargando, a família de Surgik autorizou a ida do acervo à Universidade Tuiuti do Paraná. 

Considerando o relevante papel social e educacional desempenhado pela Tuiuti no meio jurídico paranaense e o fato de ser instituição de ensino em que o Professor Aloisio Surgik lecionou prazerosamente por muitos anos, sem qualquer incidente, com reiterado respeito à sua capacidade intelectual, seus posicionamentos filosóficos e ideológicos, assim como à sua liberdade de cátedra, a família consentiu que os milhares de livros do acervo fossem doados para essa instituição de ensino superior. 

Para Carolina Surgik, uma das filhas do professor que também era pai de Helena e Gustavo Surgik, foi um alívio perceber que o acervo do pai encontrou um destino apropriado: “Falando em nome dos meus irmãos que moram na Alemanha e também em nome da minha mãe Ana Maria Surgik, posso dizer que foi um alívio saber que meu ‘quarto irmão’ se encontra em boas mãos. Era uma preocupação muito grande de nossa parte saber que os livros, que para nosso pai eram realmente como um filho, fossem destinados de forma correta para que qualquer pessoa que queira ter acesso àquele conhecimento possa ter. Sua grande meta era essa, disponibilizar conhecimento. É uma felicidade imensa para a família Surgik”, destaca. 

O Desembargador José Laurindo de Souza Netto, presidente do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), homenageou o seu professor Aloisio Surgik na comemoração dos cento e cinquenta anos da chegada das 34 famílias polonesas a Curitiba, realizada em data de 29 de outubro no espaço Svago do Tribunal de Justiça do Paraná, lembrando, em seu discurso, que para o curitibano, o legado polonês está por toda parte: “São os olhos cor de céu tão comuns aqui em Curitiba, as casas coloridas enfeitadas com lambrequins e a literatura de Dalton Trevisan, com seus vampiros e polacas. Aqui nos deliciamos com pierogui e ‘sonhos de nata’. Temos muito orgulho do grande poeta Paulo Leminski, e do arquiteto Jaime Lerner.”.  

E destaca que o seu grande mestre e jurista, neto de poloneses, tinha muito dignidade da sua origem, formando muitas gerações de bacharéis em Direito no Paraná, foi um grande intelectual das leis e das línguas, um poliglota e um romanista. Contudo, seu maior legado foi a alegria. Com personalidade sempre positiva, há quem diga que nunca viu o professor de mau humor. Até em momentos de grande tensão sempre conseguia ver o lado bom das coisas e da vida. Era capaz de interromper uma aula para chamar a atenção dos alunos para o canto dos pássaros. Com a mesma simpatia conversava com todos que encontrava pela frente: do porteiro de seu prédio ao Reitor da Universidade. Certa vez, foi internado para tratamento de saúde, e sem queixas não se cansava de elogiar o mamão perguntando às enfermeiras onde era comprado. Somente quem tem muito bom humor pode elogiar a comida do hospital! 

Lembrou que muito interessado pelo direito romano ouviu do professor Surgik a sugestão: “Conheça Roma”. Foi o que fez. Além de conhecer “in loco” a história do berço da civilização ocidental, apaixonou-se pela italiana Nizza Fellus, depois sua esposa e mãe dos seus três filhos. 

Os filhos do Professor Surgik: Luís Gustavo, Ana Helena e Ana Carolina compareceram à cerimônia, sendo que os dois primeiros efetuaram apresentação musical de cordas de compositores poloneses. Prestigiada pela Cônsul da Polônia em Curitiba, Marta Olkowska, a qual conversou animadamente com todos, inclusive com magistrados e servidores. Fabiana Pieruccini lembrou que a sua mãe era polaca, pois seu avô Dobieslau Kotovicz veio da Polônia, e lhe coube de herança o baú polonês (aquele sem pregos) que embalou os poucos bens da família, e o guarda com carinho e pela simbologia, ensinando aos filhos que a vida tem que caber naquele espaço diminuto, pois tudo mais é supérfluo. O professor João Casillo também compareceu à solenidade. 
 

Por Desembargador Robson Marques Cury